A notícia requere confirmação oficial, mas a ideia base é, no meu ponto de vista, muito válida e necessária para acabar com as suspeições, tão costumeiras em Portugal.
Ter jogos dos campeonatos profissionais apitados por árbitros estrangeiros faz sentido por múltiplos motivos.
Em primeiro lugar acaba o problema das nomeações, em razão das limitações geográficas do país, que é argumento para que, nem sempre os melhores árbitros conduzam os jogos mais importantes (por serem da mesma região de algum dos intervenientes). Todos sabemos, por exemplo, o que acontece quando um juiz de Lisboa é indicado para dirigir um Porto vs Benfica ou um Braga vs Sporting. Se o resultado pende para os clubes da capital, logo aparece quem coloque em dúvida a justiça do placar por favorecimento ou dualidade de critérios. E o inverso também sucede.
Por outro lado, um dos problemas do futebol português que poderia ser minimizado, com a medida, seria a quantidade absurda de interrupções. Todos vemos, semana após semana, nos campeonatos europeus, que os árbitros têm um critério mais largo e não têm por hábito apitar todos os encostos e quedas. Inclusive, quantas vezes vemos árbitros portugueses, em jogos das competições internacionais, com grandes actuações, e no jogo seguinte, para o torneio doméstico, não conseguirem a mesma performance?
Chega a ser ridículo termos em média pouco mais de cinquenta minutos úteis de jogo. E nem vale a pena falar que esse mau hábito é a principal razão para o antijogo de muitas equipas. Depois ficamos admirados pela falta de competitividade de grande parte dos nossos clubes nas provas internacionais.
O terceiro motivo, e talvez aquele que poderá influenciar decisivamente na implementação desta ideia, está relacionada com a própria qualidade das arbitragens.
Ao longo dos anos, em Portugal, alimentou-se a ideia que pressionar a arbitragem é meio caminho andado para o sucesso desportivo. Todos os clubes, em maior ou menor medida, fazem essa pressão de forma constante e embarcam no argumento mais simples, mas desonesto, de justificar resultados. E o problema foi-se agravando com a conivência da imprensa que, a maior parte das vezes também sem honestidade e favorável aos lobbies, altera os critérios de análise em função deste ou daquele clube, criticando num sentido e depois noutro, sem coerência e com efeitos nocivos.
Por que razão se elogiam as actuações dos árbitros portugueses, nos jogos além-fronteiras, pelos critérios largos, e se critica os mesmos árbitros por deixarem o jogo fluir nos jogos domésticos? Que motivos existem, para lá dos que mencionei, para desconfiar da lisura de um árbitro que se recusa assinalar falta ao primeiro encosto ou queda, como faz lá fora?
É evidente que, por mais força mental que um árbitro tenha, é difícil manter o discernimento quando o ruído (de dirigentes, treinadores, jogadores, imprensa) é permanente e a pressão que estes fazem sobre quem comanda a arbitragem é constante e, indirectamente, recai sobre o próprio árbitro.
Também por esse motivo, creio que seria benéfico para a arbitragem portuguesa que os nossos árbitros actuassem noutros campeonatos da Europa. Continuariam a progredir sem a preocupação de toda e qualquer decisão ser vista como tendenciosa e/ou premeditada.
Se a implementação dessa medida for adiante, no final, também os clubes sairão beneficiados. A transparência das competições permitirá mais possibilidades de rentabilizar o produto futebol. Seja em sponsorização, seja na venda de direitos audiovisuais para outros mercados.
Por isso, sou totalmente favorável à utilização de equipas de arbitragem estrangeiras nas nossas competições profissionais. Todos ficaremos a ganhar.
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