Nem de propósito, quase na sequência do texto em que dissertei sobre as possibilidades de Gabriel Barbosa regressar ao futebol europeu, o jogador foi um dos duzentos protagonistas de um episódio lamentável, tendo em conta este momento que o mundo está a viver, e que vai ao encontro do que escrevi.
Mesmo aceitando o debate feito, principalmente nas redes sociais, com enfoque nas duas figuras públicas envolvidas, mas aligeirando a pobreza argumentativa alicerçada na clubite, o que mais chamou a atenção foi a outra faceta justificativa - ridícula e imbecil – baseada em factos que nada têm que ver com a situação e pouco valor acrescentam ao debate.
Como se pode outorgar culpas a uma instituição pelo comportamento de um funcionário, ainda por cima fora de serviço? Desde quando o clube é responsável pelo carácter de um atleta? Por acaso é pai? Por que se aponta o dedo ao futebol por atitudes individuais e particulares? Por que se exige responsabilidade ao futebol quando a sociedade não cumpre as suas? O que interessa se o indivíduo está de férias quando a questão é de saúde pública? Muitos outros estão de férias e isso não os impede de terem comportamentos adequados. Como se pode alegar exercício de liberdade individual quando o prejuízo maior é no bem-estar colectivo? Por que razão se desvalorizam as acções de privilegiados argumentando que pertencem a sectores altamente testados. Porventura, os direitos são apenas para os testados e os deveres só para os outros?
A discussão não se deve resumir aos comportamentos das figuras públicas nem na caça às bruxas. Tem de ser alargada porque todos somos responsáveis pelo rumo que esta crise levar. O debate não deve ficar restrito às questões de direito individual porque a pandemia não é um problema exclusivo deste ou aquele, mas sim de todos.
A questão não se resume ao que um jogador faz. A questão é sobre a irresponsabilidade de alguns elementos da sociedade em prejuízo do bem-estar da mesma e a forma como outros tantos desvalorizam o mal de certas atitudes. Sinais dos tempos. Pobre humanidade.
Tampouco é uma questão de moralidade. É uma questão de bom senso. O Zé Ninguém, que não tem imprensa, deve ser colocado no mesmo patamar de irresponsabilidade. A Pandemia é democrática, não discrimina ninguém. Nem os imbecis.
A imbecilidade parece ser tão ou mais contagiosa que o vírus. Enquanto a transmissibilidade, nos piores casos, dá-se entre meia dúzia de pessoas, a imbecilidade atinge às centenas por vez.
E nada disto tem relação directa com o futebol porque o problema não é o futebol, mas sim o comportamento das pessoas.
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