Acompanhando a actividade futebolística brasileira que, por conta da pandemia, viu esta temporada encaixar na anterior, sem interrupção nem pré-época, e o calendário louco de provas sobrepostas, com jogos a cada dois/três dias, havia a curiosidade de saber como a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), através dos seus técnicos, iria gerir as convocatórias para os compromissos, da selecção principal e da olímpica, que se avizinham.
Convém assinalar que para além dos jogos decisivos dos diversos estaduais, muitos clubes também estão envolvidos nas fases de grupos das competições continentais (Libertadores e Sul-Americana), o que obriga a uma gestão rigorosa dos plantéis em função dos objectivos.
Posto isto e sem entrar na discussão dos méritos dos selecionados em detrimento de outros que não foram chamados, há um aspecto que merece reflexão, porquanto pode afectar o desempenho das principais equipas nesta hora de jogos decisivos.
Sendo evidente que o papel das selecções é reunir o melhor que cada país tem para oferecer, não é menos verdadeiro que o trabalho dos seleccionadores também deve ter em conta as especificidades do momento dos clubes e das competições.
É neste ponto que os seleccionadores, Tite e Jardine, falharam redondamente nas convocatórias que fizeram.
Apesar da importância dos jogos a disputar, que até é discutível, não havia necessidade de convocar mais de um jogador por equipa brasileira. E neste requisito o mais prejudicado acaba por ser o Flamengo que vê quatro jogadores convocados, aos quais devemos acrescentar Arrascaeta do Uruguai e Isla do Chile.
Para a principal equipa do escrete, Tite chamou Gabriel Barbosa e Éverton Ribeiro. Levando em consideração que, em convocatórias anteriores, o tempo de jogo dado a estes jogadores foi reduzido, que motivos nos podem levar a pensar que desta vez será diferente. A resposta não pode ser baseada na rotatividade do elenco porque as duas partidas, contra Venezuela e Uruguai, são para a fase de qualificação para o mundial, e ambos requerem a máxima força.
No caso da equipa olímpica, o que chama mais a atenção é o facto de Jardine ter chamado Gerson e Pedro que, até prova em contrário e com o devido respeito que as selecções olímpicas merecem, seriam muito mais úteis e necessários na equipa principal.
Seja como for, e uma vez que os dois jogos são os últimos de preparação antes das olimpíadas, a pergunta que se impõe é: André Jardine está a pensar utilizar Gerson e Pedro no Japão? Se a intenção for essa é compreensível que queira integrá-los na equipa o mais rápido possível. Contudo, se esses jogadores forem preteridos na convocatória final, não faria mais sentido eleger outros atletas para estes amigáveis? Vendo de fora parece que há aspectos extracampo com mais peso do que os desportivos. O tempo o dirá.
Enfim, sejam quais forem os critérios utilizados nestas convocatórias, ficou provado, mais uma vez, que a CBF continua a boicotar os interesses dos seus clubes, que deveriam ser acautelados para benefício do futebol brasileiro.
Se o organismo que gere o futebol no Brasil continuar a pensar que a representatividade futebolística se resume aos jogos do escrete, vai ter de esperar muito tempo para voltar ao topo. Há que ter um projecto maior e mais consistente. É imperativo que a mentalidade mude e os clubes sejam vistos como parte importante do processo evolutivo do futebol. Tal como acontece em outras partes do mundo… como na Alemanha.
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