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A força de Hulk - Emanuel Lomelino

Imagem Lance

Existem certos aspectos das análises de jornalistas brasileiros que, mesmo acompanhando de perto e assiduamente, são difíceis de entender.

Falta de compreensão à parte, chega a ser cómico observar como na maioria das vezes as falhas analíticas até podiam ser evitadas se fossem feitas com critério e seriedade em vez de pura e simples caça à visualização. Fica claro, em muitas declarações, que as opiniões são fundamentadas em ideias pré-concebidas. E nem mesmo confrontados com evidências, raramente os jornalistas têm a humildade de se retratarem.

Os parágrafos anteriores servem de suporte para explicar, entre outros casos, tudo aquilo que foi dito aquando da contratação de Hulk por parte do Atlético Mineiro e o que agora custa tanto admitir.

Muitas vezes os jornalistas dão voz ao narcisismo brasileiro e elevam o seu futebol, respectivos clubes e competições, a patamares que estão longe de reflectir a realidade. Em contraponto, quando alguns atletas regressam ao país, depois de décadas fora e sem nunca terem estado em destaque em clubes de ponta do Brasil, as apreciações são quase sempre negativas. Lembro-me da tremenda desconfiança baseada nos trinta e cinco anos do atleta e pelo facto de vir do Campeonato chinês, que a indiscutível qualidade de Hulk não merecia.

Já há algum tempo que o jogador tem vindo a demonstrar ser o elo de maior desequilíbrio do Atlético e peça fundamental na equipa. No entanto, nem mesmo assim, com golos e assistências constantes, as opiniões de grande parte dos jornalistas mudaram, como se este nível exibicional fosse circunstancial ou fenómeno sobrenatural.

Para nós, que acompanhámos o seu percurso antes da sua ida para a China, nada do que está a fazer surpreende. Simplesmente estamos a ver o Hulk de sempre, com tremenda capacidade física, qualidade técnica, e poder de finalização acima da média.

Só quem não se interessa pelo jornalismo sério e comprometido pode continuar a falar barbaridades sobre Hulk. E provavelmente serão muitos aqueles que aguardam uma sequência menos boa para voltar ao ataque e querer, a todo o custo, que a razão lhes assista.

E assim será também com outras personagens do actual futebol brasileiro. Mas isso ficará para outra oportunidade, pois não faltará.

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