O assunto fica demasiado repetitivo, mas a verdade é que a superioridade dos clubes brasileiros, nas competições sul-americanas, merece reflexões sucessivas tal a diferença para os clubes dos restantes países do continente.
À primeira vista, e em outras circunstâncias, tamanho domínio seria louvável e poderia significar que os modelos competitivos brasileiros e os projectos dos clubes seriam os mais adequados, fortes e viáveis.
No entanto, a realidade é distinta e este paradigma, que pode ser financeiramente benéfico, a outros níveis, é mais nefasto do que aquilo que se imagina. Senão vejamos:
Caso se confirmem as duas finais brasileiras nas provas da Conmebol deste ano (na Libertadores é quase certa e na Sul-americana está tudo encaminhado nesse sentido) na próxima temporada poderão estar nove clubes brasileiros na Libertadores, e isso significará que mais de metade dos vinte clubes do Brasileirão estarão em competições continentais, a maioria das quais este ano vai sofrer muito para ganhar a permanência. Isto é, mesmo quem pratique mau futebol e tenha dificuldades em manter-se no principal escalão arrisca-se a ser premiado com qualificação para uma prova continental.
Mesmo tendo em conta que as competições da Conmebol são disputadas por clubes de apenas dez nações, e existe vontade de elevar a importância e impacto de ambas as provas, a realidade demonstra que o nível competitivo tem tendência a ser cada vez menor porque muitos dos clubes classificados estão longe de conseguir atingir as condições necessárias para elevar o futebol do continente a outros patamares, inclusive alguns dos brasileiros.
Nos últimos anos temos assistido a um enorme declínio dos grandes clubes, em vários países da América do Sul, e isso tem-se refletido na competitividade que os representantes de cada país, ano após ano, vêm demonstrando.
No Brasil também temos assistido a esse fenómeno - vejam-se os casos de Cruzeiro, Botafogo e Vasco da Gama, a jogar no segundo escalão, ou de Corinthians, São Paulo, Santos, Internacional e Grémio, cujas performances não correspondem ao peso das camisas.
A esse declínio junta-se o crescimento sustentado de alguns clubes que, não tendo o mesmo peso e/ou palmarés, conseguem fazer percursos interessantes e com uma regularidade impressionante, não pela espectacularidade do futebol praticado, mas pela capacidade de saber jogar pelo resultado.
Por outro lado, desde alguns anos temos visto a forma como Flamengo e Palmeiras se têm imposto internamente e têm vindo a alargar a supremacia a todo o continente. Agora juntamos-lhes o Atlético Mineiro e temos um triunvirato que parece estar a preparar-se para ocupar as vagas deixadas por outros gigantes do país.
Para ajudar a este domínio brasileiro temos o enfraquecimento dos clubes argentinos, talvez a razão maior para aquilo que temos vindo a assistir nos últimos anos. Tirando River Plate e Boca Juniors, não se vislumbra, nos tempos mais próximos, o ressurgimento de clubes que, em outras eras, ofereciam muito mais resistência e acrescentavam valor e emoção às competições no continente.
E é também por isso que vemos clubes como o Athletico Paranaense e Red Bull Bragantino com tremendas hipóteses de serem finalistas da Sul-americana, do mesmo modo que na Libertadores teremos Flamengo vs Atlético Mineiro ou Palmeiras.
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