O futebol tem um encanto que mais nenhum desporto consegue igualar. Pode-se juntar os melhores jogadores do mundo numa equipa que isso, por si só, não garante vitórias, como ficou provado na história inúmeras vezes. A Hungria de 1954 fazia as delícias dos adeptos, onde quer que jogasse, e nunca venceu. A laranja mecânica dos anos setenta era uma máquina de bom futebol, composta por jogadores geniais e ficou sempre às portas do sucesso. O escrete de 1982 foi outro exemplo.
Por outro lado, uma equipa de jogadores modestos ou medianos, não significa ausência de conquistas, como também ficou provado na história. Dou como exemplo o Steaua, vencedor da Taça dos Campeões (Champions League) em 1986, ou o Estrela Vermelha em 1991.
Exemplos iguais aos que dei, para as duas situações, podem ser encontrados em outras provas e noutros continentes.
Sirvo-me destes parágrafos introdutórios para dizer que o futebol é apaixonante por ser um desporto que, para lá do mérito técnico dos atletas, depende também das capacidades táticas e estratégicas dos treinadores, das circunstâncias que rodeiam cada partida e da aleatoriedade que sempre está presente no próprio jogo.
E isto significa que existem várias formas de alcançar a vitória. Umas mais atractivas, outras menos apelativas. Pode-se vencer jogando bonito, mas também se alcança vitórias sendo mais pragmático. Há quem jogue de uma só forma. Há quem saiba vencer de diferentes modos.
É evidente que os adeptos preferem um jogo vistoso, cheio de qualidade técnica, velocidade e grande eficiência, no entanto, quando está em causa a conquista de troféus, ninguém quer saber da beleza do jogo se acabarem derrotados, da mesma forma que ninguém se importa com um jogo pobre se acabar vencendo.
Perante esta linha de raciocínio, não se pode avaliar a qualidade de um treinador pela beleza do futebol praticado nas suas equipas, tampouco se pode fazer essa avaliação somente pelos títulos alcançados. Todos têm méritos e pontos fracos.
E é precisamente por estes motivos que, mais uma vez, acho hilariantes as críticas feitas ao treinador Abel Ferreira. Antes da segunda partida das meias-finais da Libertadores, contra o Atlético Mineiro, e após ter empatado em casa com o mesmo clube e perdido o dérbi com o Corinthians, todos os analistas reclamaram da fraca qualidade futebolística aplicada pelo técnico português no Palmeiras, quase que exigindo a sua imediata demissão. Bastou o empate nesse jogo e a respectiva qualificação para a segunda final consecutiva, no maior troféu do continente, para que o tom fosse reduzido e, pasmem-se como eu me pasmei, Abel Ferreira quase passou de proscrito a génio salvador da pátria palmeirense.
É em circunstâncias como esta que eu encontro as principais diferenças, nas formas de entender o futebol, entre europeus e sul-americanos.
Aqui avalia-se o trabalho no seu todo, lá analisa-se apenas o resultado do momento.
Não sei quem está certo ou errado, mas parece óbvio que é mais fácil ser crítico do instante do que avaliador do percurso. Para além de dar muito menos trabalho.
Só é pena que esse género de análise, de tudo ou nada, génio ou burro, seja feito de forma propositada, jogando com as emoções dos adeptos, para ganhar nos cliques.
Compreensível. Afinal a polémica e o imediatismo sempre venderam mais que a tese ou ensaio.
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