No último fim-de-semana aconteceu um episódio que gerou reacções em diversos quadrantes e sectores da sociedade civil, para lá dos corriqueiros e inúmeros “entendidos” do futebol português.
Mas o que mais me impressionou foi a totalidade dos órgãos de comunicação social, desportivos incluídos, ter focado a atenção num só aspecto da ocorrência, tendo relevado a vertente desportiva, que, quer se queira ou não, foi mais uma vez manchada por situações disciplinares graves que mereciam ser exemplarmente punidas.
Por outro lado, por muito que a imagem do futebol saia afectada de forma negativa, pelos eventos no jogo Olímpico do Montijo x Vitória B, as reacções foram muito mais esclarecedoras da mediocridade social que vivemos em pleno século XXI.
E a mediocridade que falo resulta da facilidade e conveniência que alguns assuntos são analisados, dependendo das necessidades políticas, sociais e até estruturais que o nosso país, em alguns momentos, precisa e em outros fica refém.
Perante os acontecimentos que vimos, todos decidiram focar a atenção na atuação das forças de ordem pública.
Neste caso, os agentes decidiram que a melhor forma de impedir o alastrar da desordem seria efectuar disparos para o ar. Todos “vomitaram” sentenças condenado a postura da polícia.
Não pretendo dissertar sobre a legitimidade da actuação, mas sei que, fosse outra a atitude policial, todos estariam no mesmo lado da barricada arremessando contra as forças policiais, de igual modo.
Tenho a certeza que, caso os agentes ficassem impávidos e serenos, perante as cenas de pancadaria selvagem, todos estariam a mostrar revolta pela passividade dos agentes da lei.
Também sei que, caso as armas tivessem sido direccionadas directamente para algum, ou alguns, dos envolvidos, todos estariam a crucificá-los pelo excesso de zelo, abuso de autoridade e falta de preparação para este género de situações.
Este último exercício de adivinhação, mais não é que um acerto daquilo que poderíamos ouvir na comunicação social, a mesma que decidiu parar a imagem num frame após o movimento de sacar a arma do coldre e antes da arma apontar para o ar, como se o policial estivesse a apontá-la directamente a um dos envolvidos.
Sei, e admito, que existem inúmeras ocasiões em que a aplicação da lei é feita de forma desmedida, autoritária e despropositada. Sei também que há muitos agentes da autoridade com falta de preparo para as funções que lhes são outorgadas, no entanto, isso não justifica que todos os casos que chegam a público sejam vistos como prova irrefutável dessas deficiências. E este não é, com toda a certeza, um desses casos.
Estamos também a atravessar uma era em que a informação nos chega por múltiplas plataformas e existe uma urgência em dar a notícia com maior celeridade e de modo impactante, sem a verificação de todos os factos. Essa forma de reportar notícias não me surpreende, mas não deixa também de ser revoltante.
Estamos a viver um tempo de falsos moralismos, falsos argumentos e fracas convicções. Porque a mediocridade e o sensacionalismo são as condições sine qua non para ser-se bem-sucedido nas mídias modernas.
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