Avançar para o conteúdo principal

Notícia ao sabor da necessidade - Emanuel Lomelino

No último fim-de-semana aconteceu um episódio que gerou reacções em diversos quadrantes e sectores da sociedade civil, para lá dos corriqueiros e inúmeros “entendidos” do futebol português.

Mas o que mais me impressionou foi a totalidade dos órgãos de comunicação social, desportivos incluídos, ter focado a atenção num só aspecto da ocorrência, tendo relevado a vertente desportiva, que, quer se queira ou não, foi mais uma vez manchada por situações disciplinares graves que mereciam ser exemplarmente punidas.

Por outro lado, por muito que a imagem do futebol saia afectada de forma negativa, pelos eventos no jogo Olímpico do Montijo x Vitória B, as reacções foram muito mais esclarecedoras da mediocridade social que vivemos em pleno século XXI.

E a mediocridade que falo resulta da facilidade e conveniência que alguns assuntos são analisados, dependendo das necessidades políticas, sociais e até estruturais que o nosso país, em alguns momentos, precisa e em outros fica refém.

Perante os acontecimentos que vimos, todos decidiram focar a atenção na atuação das forças de ordem pública.

Neste caso, os agentes decidiram que a melhor forma de impedir o alastrar da desordem seria efectuar disparos para o ar. Todos “vomitaram” sentenças condenado a postura da polícia.

Não pretendo dissertar sobre a legitimidade da actuação, mas sei que, fosse outra a atitude policial, todos estariam no mesmo lado da barricada arremessando contra as forças policiais, de igual modo.

Tenho a certeza que, caso os agentes ficassem impávidos e serenos, perante as cenas de pancadaria selvagem, todos estariam a mostrar revolta pela passividade dos agentes da lei.

Também sei que, caso as armas tivessem sido direccionadas directamente para algum, ou alguns, dos envolvidos, todos estariam a crucificá-los pelo excesso de zelo, abuso de autoridade e falta de preparação para este género de situações.

Este último exercício de adivinhação, mais não é que um acerto daquilo que poderíamos ouvir na comunicação social, a mesma que decidiu parar a imagem num frame após o movimento de sacar a arma do coldre e antes da arma apontar para o ar, como se o policial estivesse a apontá-la directamente a um dos envolvidos.

Sei, e admito, que existem inúmeras ocasiões em que a aplicação da lei é feita de forma desmedida, autoritária e despropositada. Sei também que há muitos agentes da autoridade com falta de preparo para as funções que lhes são outorgadas, no entanto, isso não justifica que todos os casos que chegam a público sejam vistos como prova irrefutável dessas deficiências. E este não é, com toda a certeza, um desses casos.

Estamos também a atravessar uma era em que a informação nos chega por múltiplas plataformas e existe uma urgência em dar a notícia com maior celeridade e de modo impactante, sem a verificação de todos os factos. Essa forma de reportar notícias não me surpreende, mas não deixa também de ser revoltante.

Estamos a viver um tempo de falsos moralismos, falsos argumentos e fracas convicções. Porque a mediocridade e o sensacionalismo são as condições sine qua non para ser-se bem-sucedido nas mídias modernas.

Leiam mais textos sobre Jornalistas neste link

Leiam mais textos sobre Imprensa neste link

Acompanhem-nos no Twitter e no Facebook

Comentários

Mensagens populares deste blogue

No lado errado da estrada - Emanuel Lomelino

Imagem UOL Não há quem possa colocar em causa o talento, com laivos de genialidade, de Neymar, no entanto, por culpa de astros anteriores, e até contemporâneos, ser craque exige muito mais do que a qualidade em campo. Podem existir muitas razões para explicar a instabilidade de Neymar, mas a mais óbvia está umbilicalmente ligada à sua necessidade, quase obsessão, em andar nas bocas do mundo, a toda a hora. Desde muito cedo na sua carreira, e talvez por isso, ficou evidente a falta de formação humana que lhe deviam ter incutido. Ao contrário de outros grandes jogadores, Neymar nunca quis abdicar de uma vida boémia, qual menino mimado, para se dedicar de alma e coração à carreira escolhida. Só que essa recusa tem um preço a pagar. Mais ainda se a tudo isto juntarmos o facto de, no mesmo espaço temporal, existirem Messi e Ronaldo, e agora terem aparecido Mbappé e Haaland. Neymar até não tem sido menos “bad boy” que outros craques do passado, como Romário ou Ronaldinho Gaúcho, mas

Uma Vez Flamengo... - Adriana Mayrinck

Pintinho em um Fla x Flu. Foto do seu arquivo pessoal Flamengo e Fluminense (fotos retiradas da internet) Uma lembrança longínqua, não sei ao certo a minha idade, talvez cinco ou seis anos. Lembro-me dos detalhes da sala, do tapete em que eu ficava deitada em almofadões, com as minhas botas vermelhas, a poltrona do “papai” como era chamada, aquele lugar que só o meu avô podia sentar, ao lado de uma mesinha com tampo de mármore, sempre com um copo de cerveja Skol e uma latinha ao lado, em frente a uma TV. Não lembro quase nada dessa época, algumas coisas muito pontuais, talvez por tantas vezes ver as fotografias, no tempo que morei no apartamento dos meus avós, na Gonçalo de Castro, enquanto a nossa casa era construída, em um condomínio ASBAC, na Granja Comary, em Teresópolis. Mas lembro que andava pelos calçadões de Copacabana com os meus três anos de idade, lembro do balanço na pracinha Serzedelo Correia, quando, recém-chegada de Recife, onde nasci, aprendi a amar aquele bairro. P

Surpresa ou início de novo ciclo - Emanuel Lomelino

Imagem A Bola (José Lorvão) Vivemos um tempo atípico e, tal como está a acontecer noutras áreas, por todo o mundo, também o futebol está a ser influenciado por essa falta de normalidade. No caso português, e considerando as últimas quatro décadas, fica um pouco estranho ver o Sporting Clube de Portugal na liderança do campeonato, mais ainda com a vantagem pontual tão acentuada. É certo que ainda agora começou a segunda volta e faltam muitos jogos. Também é verdade que as outras equipas têm estado aquém do esperado. No entanto, não deixa de ser surpreendente um domínio tão avassalador. Como se explica que esta equipa, quase na totalidade composta por jovens jogadores da formação, com um treinador também em início de carreira, sem qualquer fora de série, e que inicialmente nem era vista como candidata a ganhar troféus, demonstra em campo, jornada após jornada, este nível de competência? Mesmo sendo adepto do Sporting , e estar a deliciar-me com a forma como a época está a deco