Não sou, nem pouco mais ou menos, fervoroso adepto do futebol praticado pelas equipas dirigidas por Abel Ferreira, no entanto, em boa consciência, também não posso negar que, comparando com técnicos semelhantes, o treinador português tem demonstrado ser eficiente, regular e, acima de tudo, tremendamente competente, nos projectos que tem abraçado.
A verdade é que, apesar da ausência de nota artística, o futebol implementado por Abel Ferreira no Palmeiras tem dado frutos, como provam os dois troféus conquistados nas quatro decisões disputadas, e o apuramento para a próxima final da Copa Libertadores.
Analisando mais em detalhe o trabalho feito, até agora, na equipa paulista, creio que Abel Ferreira, para lá da qualidade estética do futebol apresentado só tem falhado num aspeto: na insistência em apontar os defeitos estruturais do futebol brasileiro.
Sim, ele faz parte do universo futebolístico canarinho há um ano e os problemas do futebol no Brasil também afetam o seu trabalho, contudo, seria mais prudente restringir as suas opiniões ao foro interno. Isto é, apenas com a sua equipa técnica e, talvez, junto da classe dirigente do clube. Tudo o mais é excessivo e apenas tem resultado em chamar sobre si a atenção daqueles que esperam, a cada instante, uma oportunidade para o denegrir. Por isso acredito que seria mais saudável e tranquilo para Abel Ferreira deixar de emitir opiniões sobre assuntos que os próprios brasileiros nunca demonstraram interesse em debater. Pelo menos de forma séria e construtiva.
Quem acompanha o jornalismo desportivo brasileiro sabe que tudo o que seja estrutural nunca é debatido porque esses temas não geram audiência. É mais fácil e “lucrativo” discutir convocatórias, substituições, opções táticas e discursos de técnicos do que identificar os problemas de fundo, que minam o futebol do país, e sugerir soluções.
Com o pouco tempo que tem no Brasil, e não estará muito mais, Abel Ferreira deveria limitar-se a falar do jogo das quatro linhas e evitar falar de temas laterais sob pena de continuar a ser acusado, por grande parte da imprensa brasileira, de ter discursos e atitudes colonialistas.
Não tenho dúvidas que, ao alertar para esses assuntos, as suas intenções são boas, mas, fazendo uso de um adágio antigo, de que serve dar pérolas a porcos quando os porcos, mesmo tendo escolhas mais higiénicas, preferem viver no chiqueiro?
Com toda a sinceridade, independentemente do resultado da próxima final da Copa Libertadores, espero que Abel Ferreira coloque um ponto final na sua experiência sul-americana.
O Palmeiras é enorme e dificilmente Abel Ferreira voltará a treinar um clube desta dimensão, mas certamente não faltarão clubes interessados na sua competência. E ele ainda tem muito para evoluir.
Leiam mais textos sobre Abel Ferreira neste link
Leiam mais textos sobre Futebol sul-americano neste link
Comentários
Enviar um comentário