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Bernardo Silva e a selecção - Emanuel Lomelino

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Na sequência do texto que escrevi sobre as paupérrimas exibições da selecção portuguesa nos últimos encontros de qualificação para o Mundial do Qatar, e pegando num dos aspectos abordados – a falta de empenho de alguns selecionados – decidi analisar mais de perto o papel desempenhado por Bernardo Silva ao serviço da equipa nacional.

Ninguém coloca em causa o valor qualitativo do jogador, mesmo porque as suas exibições no Manchester City, e consequentes avaliações públicas feitas pelo seu técnico, Pep Guardiola, não deixam o planeta-futebol indiferente.

De facto, Bernardo Silva tem-se exibido em altíssimo nível na Premiere League e na Champions League, tendo inclusive, nesta última, sido nomeado o melhor jogador em duas ocasiões consecutivas – algo raro.

No entanto, e em sentido contrário áquilo que tem sido dito pela crítica desportiva e demais “entendidos da bola”, ao serviço da selecção, temos assistido a performances muito fracas, sem marcar a diferença nem agregar valor ao colectivo. É caso para dizer que, agora e perante este cenário, consigo entender as reservas de Jorge Jesus quando o treinou no Benfica.

Não creio ser justo avaliar de forma positiva a actuação de um jogador por uma só acção pressionante, que resultou em golo (como no início do jogo contra a Sérvia), ignorando as duas ou três ocasiões em que agarrou-se ao esférico, driblou cinco ou seis adversários, num raio de dez metros, de forma inconsequente, acabando por estancar a ofensividade da equipa com recuos para a zona defensiva ou perder a bola e, de uma dessas perdas ter resultado o golo do empate da Sérvia.

Este género de acções individuais não são raras em Bernardo Silva e apenas demonstram que tem utilizado os jogos da selecção para tentar ser o centro das atenções.

Aqui chegados, e não existe forma de escamotear esta realidade, é verdade que os holofotes estão sempre virados para tudo aquilo que Cristiano Ronaldo pode fazer em campo, mas também não é correto, nem seria coerente, ignorar que, desde alguns anos, o capitão tem sabido gerir os seus desempenhos, mesmo com menor capacidade física, sem deixar de assumir as suas responsabilidades e tentar ajudar o colectivo.

Todos sabemos que, nas actuais condições e também porque a idade não perdoa, não se pode pedir a Cristiano Ronaldo que faça grandes esforços defensivos, menos ainda quando tem sido ele a resolver os problemas mais complicados da equipa, como foi o caso dos dois golos tardios, mas decisivos, da primeira partida contra os irlandeses. E também por isso o destaque tem recaído sobre o capitão.

Ora bem, por vezes, ao ver Bernardo Silva, dá a sensação que é um jogador incomodado com a permanente atenção dispensada ao capitão e por isso tenta chamar sobre si os olhares fabricando jogadas que, por mais vistosas que sejam, não beneficiam em nada o futebol colectivo que se quer na selecção.

Perante esta situação a pergunta que me assalta é:

Será que, após a saída definitiva de Cristiano Ronaldo da equipa nacional, jogadores como Bernardo Silva vão deixar de lado as tentativas de brilhar de forma isolada e trabalhar em função das necessidades da equipa?

Pode ser que me engane no prognóstico, mas o meu diagnóstico é que nenhum deles, especialmente Bernardo Silva, venha a ter uma atitude diferente quando chamado aos jogos da selecção.

E por tudo o que escrevi neste texto, temo que a nossa equipa nacional volte a ser o que era nos anos oitenta e noventa: uma equipa com valor, mas com presenças escassas em fases finais de Europeus e Mundiais.

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