Terminou mais uma edição da Copa Sul-Americana e, pela segunda vez em quatro anos, a vitória sorriu ao Athlético Paranaense, que desta vez derrotou os compatriotas do Red Bull Bragantino.
À parte dos aspectos técnicos e tácticos, que não são o objecto principal deste texto, esta final, com os clubes envolvidos, suscita três questões que merecem reflexão.
Primeiro: segunda de três finais continentais consecutivas com dois clubes brasileiros, bem demonstrativo do domínio hegemónico dos clubes canarinhos, que parece difícil de contrariar nos anos mais próximos.
As razões para esta superioridade avassaladora são várias, no entanto, permito-me destacar a aposta generalizada no retorno de jogadores com lastro europeu, que aportam outras capacidades técnicas e competitivas ausentes da realidade sul-americana. Nunca, como agora, houve um desnível tão acentuado e nem mesmo as especificidades que sempre beneficiavam os clubes de alguns países – altitude, ambiente nos estádios, elementos intimidatórios – têm funcionado para equilibrar a balança.
Segundo: confirmação da capacidade competitiva de novas forças importantes e relevantes no panorama futebolístico brasileiro.
Nos últimos dois/três anos temos assistido a um novo paradigma, ou pelo menos um novo entendimento, na forma como se procura o sucesso desportivo no Brasil. Aos poucos a correlação de forças tem-se alterado e já fica complicado encontrar argumentos que sustentem a existência do chamado grupo dos doze grandes.
Em boa verdade, o mito dos doze grandes só existe no imaginário dos brasileiros porque um número razoável de circunstâncias e condicionantes assim o permitiram. Por mais abertas e disputadas que tenham sido as competições nacionais, na prática nunca existiram provas com doze candidatos prévios. Essa noção quantitativa de clubes top só existe porque, pela dimensão do país, os campeonatos estaduais mais mediáticos tiveram um peso enorme na elevação de alguns clubes a patamares de excelência nacional. Mas isso será tema de outros textos.
Regressando a este, ano após ano temos observado que têm surgido “novas” forças, cujos projectos desportivos assentam numa gestão mais equilibrada, para não dizer sensata, de todos os activos, e com extremo rigor nos aspectos administrativos. Clubes como Fortaleza, Athletico Paranaense, Ceará, Bahia, entre outros, têm vindo a crescer de forma sustentada, aproximando-se a passos largos de um estatuto que muitos dos chamados “grandes” têm tido dificuldade em manter.
Terceiro: vislumbres da qualidade e viabilidade do projecto Red Bull no Brasil, que foi concebido para, além da vertente económica e financeira, começar a disputar troféus num prazo máximo de cinco anos.
Sendo certo que a pressão, tantos de adeptos como da imprensa, é residual, quase inexistente, o projecto Red Bull Bragantino parece estar a caminhar para o sucesso pleno. Não podemos ficar indiferentes ao facto de, em apenas dois anos, o progresso deste projecto ser assinalável. Mais ainda se atentarmos que o sucesso desportivo – que é sempre relativo e dependente de múltiplas variantes – está englobado num ciclo de cinco anos. Isto significa que em pouco mais de metade desse tempo, mesmo com final perdida, o clube já chegou às portas desse objectivo.
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