Foi bizarramente assustador assistir às duas últimas performances da selecção portuguesa de futebol.
Portugal entrou nesta etapa, de apuramento para o Mundial do Qatar, com a faca e o queijo na mão, dependendo apenas de si e com todos os trunfos em condições básicas de utilização.
Mas, mais uma vez, como se estivéssemos numa espécie de regresso ao passado (neste caso até bem distante), voltámos a demonstrar uma confrangedora síndrome de pequenez. É inacreditável como não se consegue encarar a realidade e assumir, completamente, o papel de potência futebolística.
Os dois últimos jogos fizeram-me recordar a selecção dos anos oitenta e noventa que, apesar de jogadores geniais, nunca conseguia colocar em campo toda a sua qualidade, porque preferia – erradamente – adaptar-se ao jogo dos adversários, em vez de impor o que de melhor tem para oferecer.
Com toda a qualidade e, principalmente, conquistas alcançadas, é inadmissível colocar-se em risco um apuramento, que nunca poderia ter sido colocado em causa, menos ainda levando em consideração as selecções que compunham este grupo.
É ridículo – no mínimo – observar que o único jogo razoável desta campanha tenha sido o disputado no Azerbaijão. Todos os outros resultados foram alcançados numa espécie de rendimento mínimo aplicável.
É certo que deve ser dado mérito aos oponentes, no entanto, sem prejuízo de desvalorização do rendimento das outras selecções, exige-se muito, mas muito mais, de uma selecção com valores individuais reconhecidos internacionalmente.
Também é incompreensível a falta de atitude competitiva de alguns futebolistas aquando dos jogos na equipa nacional. Diogo Jota, Bruno Fernandes, João Félix e, principalmente, Bernardo Silva, ainda não conseguiram demonstrar um décimo daquilo que produzem nos respectivos clubes.
Não sei se é uma questão de mau aproveitamento técnico ou relaxamento excessivo pela presença intocável de Cristiano Ronaldo. O que sei é que a vontade do capitão, mesmo com menor fulgor físico – natural porque a idade não perdoa – não tem paralelo nesses atletas mencionados e, se for essa a razão para o fraco rendimento, é muito triste sentir que a vaidade e os egos podem colocar em risco – como colocaram – a continuidade da presença portuguesa em fases finais das competições futebolísticas, que tem sido ininterrupta desde o Euro 2000, quase vinte e dois anos – seis Euros e cinco Mundiais.
A confirmar-se essa falta de aplicação por motivos egocêntricos, não deixa de ser preocupante o futuro da equipa nacional tendo em conta que, por mais que as capacidades físicas do capitão se venham a degradar, os resultados práticos da sua inclusão e a influência daquilo que oferece têm sido determinantes na globalidade dos êxitos alcançados e sem ele não se antevê quem possa aportar esse factor desequilibrante.
Por último, e porque este desabafo escrito já está demasiado longo para os parâmetros deste blogue, é impressionante verificar que, depois de tanta gritaria para o regresso do público aos estádios portugueses, o ambiente no jogo mais decisivo desta qualificação tenha sido tão frouxo e desinteressado. Mais um detalhe que faz lembrar as décadas de oitenta e noventa.
Espero sinceramente que tudo possa ser colocado nos eixos nas partidas de play-off, mas a verdade é que, mesmo sendo cabeça de série, existe uma possibilidade enorme de Portugal falhar a sexta participação consecutiva num Mundial.
E se isso acontecer, só ficarei desiludido por achar que Cristiano Ronaldo não merece esse desfecho de percurso na selecção.
Quando o assunto é futebol, todos achamos as nossas opiniões válidas, irrepreensíveis e à prova de qualquer refutação. Neste caso não assumo a imbatibilidade dos meus argumentos, mas também não posso deixar de expressar o meu tremendo descontentamento pela forma bizarra como todos os envolvidos nos dois últimos jogos da selecção actuaram: dirigentes, técnicos, jogadores e adeptos nas bancadas.
Leiam mais textos sobre a Selecção portuguesa neste link
Comentários
Enviar um comentário