Avançar para o conteúdo principal

Não vê quem não quer - Emanuel Lomelino

Imagem ojogo

Não era preciso ser um génio, nem fazer um exercício de adivinhação, para prever todos os resultados possíveis deste folhetim em redor de Jorge Jesus alimentado pelo interesse flamenguista.

Ao contrário da ideia transmitida pela grande maioria da imprensa, tanto lusa como canarinha, a continuidade do treinador, na equipa encarnada, não foi abalada pelo desejo brasileiro de voltar a contar com os seus serviços.

A verdade é mais simples: o ambiente interno, que já continha demasiados anticorpos, deteriorou-se com a mudança de presidente do clube português. Rui Costa, pelo seu brilhante passado como jogador, mais que ninguém, conseguiu detetar as fricções no balneário e os conflitos crescentes entre equipa técnica e atletas.

A presença, em Portugal, de responsáveis do clube carioca tomou conta das manchetes deixando pouco espaço para discussão sobre as evidências desse mal-estar.

Quase ninguém deu relevo, ou pelo menos a devida importância, às declarações de Pedrinho e, posteriormente, de Everton, que detonaram Jorge Jesus.

Sendo evidente que ambos os jogadores, por não terem atingido performances de excelência, ficando muito aquém do esperado e perdendo espaço na disputa da titularidade, só poderiam demonstrar desagrado, não é menos verdadeiro que outros houve, treinados por Jorge Jesus, a descrever o técnico de forma favorável. Mesmo sabendo da exigência que impõe nos clubes que tem representou, não são poucos os jogadores que têm tecido apreciações elogiosas ao trabalho do técnico.  

Municiados pelo histórico atrás referido, todos os analistas desvalorizaram as queixas desses jogadores e não deram conta da realidade dos factos.

Como disse, a investida dos dirigentes flamenguistas não foi a razão principal para o “incêndio” benfiquista, no entanto, teve o condão de dar-lhe outra dimensão.

O problema é que, com avanços e recuos, de todas as partes, e a pressão exercida sobre os dirigentes brasileiros, tanto pela imprensa canarinha, mas principalmente pela nação rubro-negra, as agulhas foram apontadas para outro técnico e, tal como uma verdadeira novela, agora que tudo parecia estar encaminhado para a contratação de Paulo Sousa, eis que o destino de Jorge Jesus alterou-se e tudo pode voltar ao início.

Os próximos episódios prometem fazer correr muita tinta e vão gerar muitos debates. Todos vão querer saber se os dirigentes brasileiros vão confirmar a aposta no ex-técnico da Polónia ou, em contrapartida e redirecionando o foco, voltam as atenções para o alvo prioritário, que parece estar em vias de ficar mais disponível que nunca.

Toda a imprensa esfrega as mãos de contentamento pelo prolongar desta história interminável, mas tudo isto era previsível. Bastava ler os sinais.

E se o guião for seguido, todos sairão prejudicados: Os clubes, Jorge Jesus e, principalmente, Paulo Sousa, que apostou todas as fichas na sua desvinculação e corre o risco de ver abortada a sua ida para o Rio de Janeiro.

Leiam mais textos sobre Jorge Jesus neste link

Acompanhem-nos no Twitter e no Facebook

Comentários

Mensagens populares deste blogue

No lado errado da estrada - Emanuel Lomelino

Imagem UOL Não há quem possa colocar em causa o talento, com laivos de genialidade, de Neymar, no entanto, por culpa de astros anteriores, e até contemporâneos, ser craque exige muito mais do que a qualidade em campo. Podem existir muitas razões para explicar a instabilidade de Neymar, mas a mais óbvia está umbilicalmente ligada à sua necessidade, quase obsessão, em andar nas bocas do mundo, a toda a hora. Desde muito cedo na sua carreira, e talvez por isso, ficou evidente a falta de formação humana que lhe deviam ter incutido. Ao contrário de outros grandes jogadores, Neymar nunca quis abdicar de uma vida boémia, qual menino mimado, para se dedicar de alma e coração à carreira escolhida. Só que essa recusa tem um preço a pagar. Mais ainda se a tudo isto juntarmos o facto de, no mesmo espaço temporal, existirem Messi e Ronaldo, e agora terem aparecido Mbappé e Haaland. Neymar até não tem sido menos “bad boy” que outros craques do passado, como Romário ou Ronaldinho Gaúcho, mas

Uma Vez Flamengo... - Adriana Mayrinck

Pintinho em um Fla x Flu. Foto do seu arquivo pessoal Flamengo e Fluminense (fotos retiradas da internet) Uma lembrança longínqua, não sei ao certo a minha idade, talvez cinco ou seis anos. Lembro-me dos detalhes da sala, do tapete em que eu ficava deitada em almofadões, com as minhas botas vermelhas, a poltrona do “papai” como era chamada, aquele lugar que só o meu avô podia sentar, ao lado de uma mesinha com tampo de mármore, sempre com um copo de cerveja Skol e uma latinha ao lado, em frente a uma TV. Não lembro quase nada dessa época, algumas coisas muito pontuais, talvez por tantas vezes ver as fotografias, no tempo que morei no apartamento dos meus avós, na Gonçalo de Castro, enquanto a nossa casa era construída, em um condomínio ASBAC, na Granja Comary, em Teresópolis. Mas lembro que andava pelos calçadões de Copacabana com os meus três anos de idade, lembro do balanço na pracinha Serzedelo Correia, quando, recém-chegada de Recife, onde nasci, aprendi a amar aquele bairro. P

Surpresa ou início de novo ciclo - Emanuel Lomelino

Imagem A Bola (José Lorvão) Vivemos um tempo atípico e, tal como está a acontecer noutras áreas, por todo o mundo, também o futebol está a ser influenciado por essa falta de normalidade. No caso português, e considerando as últimas quatro décadas, fica um pouco estranho ver o Sporting Clube de Portugal na liderança do campeonato, mais ainda com a vantagem pontual tão acentuada. É certo que ainda agora começou a segunda volta e faltam muitos jogos. Também é verdade que as outras equipas têm estado aquém do esperado. No entanto, não deixa de ser surpreendente um domínio tão avassalador. Como se explica que esta equipa, quase na totalidade composta por jovens jogadores da formação, com um treinador também em início de carreira, sem qualquer fora de série, e que inicialmente nem era vista como candidata a ganhar troféus, demonstra em campo, jornada após jornada, este nível de competência? Mesmo sendo adepto do Sporting , e estar a deliciar-me com a forma como a época está a deco