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Aprendendo com as “lives” - Emanuel Lomelino

Como já referi inúmeras vezes, em textos anteriores, a generalidade do que escrevo, sobre temáticas ligadas ao futebol brasileiro, é despoletado pelo visionamento de vídeos e “lives” de jornalistas e programas canarinhos.

Em algumas ocasiões também tenho feito alusão à forma distinta como se entende o futebol nos dois lados do Atlântico. Sendo que, no Brasil o jogo é analisado de forma passional enquanto na Europa há uma visão mais analítica.

Posto isto, e aceitando que os dois modelos são válidos, não deixa de ser curioso observar as reacções do “público” quando os debates, ou as “lives”, contam com a presença de convidados lusos.

Para servir de base à minha dissertação, vou dar como exemplo as “lives” que o jornalista Bernardo Ramos tem feito, no seu canal de Youtube, sobre algumas temáticas relacionadas com a forma, modelos, e conceitos de trabalho de Paulo Sousa.

Como ponto de partida, devo referir que acho este género de trabalho, mais que interessante, extremamente útil para quebrar alguns conceitos, e preconceitos, junto da massa torcedora brasileira. Isto porque, apesar da proximidade linguística, existe um abismo enorme entre os pensamentos, por conta, entre outros aspectos, das diferenças culturais e geográficas.

Em segundo lugar, baseado na perspectiva das distintas formas de entendimento do futebol, sempre ressalvando que ambas são legítimas, surge-me como “curioso” o fascínio que observo nas reacções ao que tem sido dito pelos convidados de Bernardo Ramos, principalmente Rui Malheiro e Alex Brito Nogueira, uma vez que ambos têm discursos e abordagens muito pouco usuais no panorama brasileiro e que cativam, precisamente, por serem uma lufada de ar fresco para os torcedores.

Mesmo já estando habituado e compreendendo as razões pelas quais o “público” destas “lives” reage efusivamente e de modo interessado, não deixo de ver com curiosidade o impacto que o pensamento europeizado consegue ter junto dessa massa adepta. Mais ainda por saber que toda a informação transmitida, e que agora é aceite sem contestação, caso os resultados em campo não sejam os melhores, vai ser vista como inútil e sem efeitos práticos reais.

Por muito bem explicado que seja cada tema, na hora do insucesso, ninguém vai ter o discernimento para tentar entender em que aspectos o processo prático não conseguiu equiparar-se à teoria ou seguir os planos teóricos. Nessa hora será mais fácil chamar o técnico de incompetente ou os jogadores de vagabundos e renegar a eficácia dos conceitos e métodos.

Numa outra perspectiva, e aqui tenho de voltar a parabenizar Bernardo Ramos, com este género de conteúdos, e convidados, o “público” pode compreender melhor as diferenças que existem entre os técnicos brasileiros e os estrangeiros - não só os portugueses.

As mais evidentes, e recorrentemente mencionadas, são a capacidade de estudo, a busca permanente de ferramentas de aperfeiçoamento, e a disponibilidade para partilhar conhecimento e experiências. Independentemente do estilo de jogo adoptado, do sistema tático, ou da qualidade estética das performances, a maior imagem de marca dos treinadores lusos reside no estudo e partilha. E essa fome de conhecimento não se restringe exclusivamente ao futebol, mas também a outros desportos e outras áreas como a psicologia, a filosofia, a antropologia, etc.

Tal como referi no início, estas “lives” têm servido de base para muitos dos meus textos, mas também têm o condão de provar que é possível conciliar a paixão pelo futebol, tão típica dos brasileiros, à análise conceptual dos europeus, permitindo que as duas proporcionem um entendimento diferente sobre todas as nuances próprias do jogo, porquanto, por mais que seja o resultado a ditar o sucesso ou fracasso de um trabalho, o mesmo não se resume ao golo marcado, à bola que sai ao lado, à substituição que não resulta, ou ao penalty não assinalado. Existe muito mais que merece reflexão e Bernardo Ramos tem sido responsável por levar essa reflexão aos torcedores brasileiros. E, entretanto, como consequência e natureza estudiosa minha, também vou aprendendo sobre a maleabilidade do pensamento brasileiro.

Assistam à última "live" com Rui Malheiro neste link

Assistam à última "live" com Alex Brito Nogueira neste link

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