Nos últimos tempos, a grande questão em debate, no futebol brasileiro, advém da invasão de técnicos estrangeiros, pós “Jorges” (Sampaoli e Jesus).
Desde 2019, alguns paradigmas e dogmas criados, ao longo de décadas, pelos treinadores brasileiros, com o apoio argumentativo da maior parte da imprensa, sempre alicerçados nas conquistas da selecção, foram desmontados por estes dois técnicos.
O impacto foi tão grande que, de forma inevitável, mas nada racional, a maioria dos clubes passou a priorizar a contratação no exterior.
Para agravar a situação, durante este período, mais dois “estrangeiros” chegaram e conquistaram as massas. Abel Ferreira com títulos, no Palmeiras, Juan Pablo Vojvoda com qualidade de jogo, no Fortaleza, um clube bem estruturado e gerido, mas considerado de menor expressão. A estes dois, e por questão de justiça, devo acrescentar Hernán Crespo que, mesmo já não estando no Brasil, foi o máximo responsável por colocar ponto final ao jejum de títulos do São Paulo.
De toda esta revolução resulta que, neste início de temporada, seis clubes, que estarão a disputar o principal campeonato brasileiro, estão a ser comandados por treinadores estrangeiros. Atlético Mineiro (António Mohamed), Flamengo (Paulo Sousa), Palmeiras (Abel Ferreira), Fortaleza (Juan Pablo Vojvoda), Internacional (Alexander Medina), Coritiba (Gustavo Morínigo).
À partida, seis em vinte pode parecer pouco, mas em termos de percentagem estamos a falar de 30% de clubes com treinadores forasteiros.
Sendo evidente que este panorama levanta muitas questões, que devem ser debatidas seriamente, creio que a discussão está a passar ao lado daqueles que, no meu entendimento, deveriam ser os mais interessados: os treinadores brasileiros.
Muitos podem contestar-me dizendo que alguns técnicos têm-se manifestado sobre o assunto. No entanto, não creio que comentários do género: “os treinadores de fora não nos vêm ensinar nada”, ou: “o Brasil é pentacampeão mundial com técnicos brasileiros”, acrescentem muito ao debate, bem pelo contrário, essas declarações são rasas e pouco contribuem para combater a imagem actual dos profissionais em causa. Digo mais, frases como os exemplos citados são sinal inequívoco da crescente descredibilização dos treinadores brasileiros.
Ora, quando se fala em descredibilização dos técnicos, não está a ser colocado em causa o seu valor profissional, mas sim o seu conformismo perante a actual situação. O problema não está no número nem na percentagem de estrangeiros que treinam em equipas brasileiras, tampouco está na sua nacionalidade. O problema maior está na completa inação dos treinadores brasileiros quando confrontados com uma mudança de paradigma, que construíram e alimentaram durante décadas.
É evidente que a origem e as implicações do cenário actual não se resume ao que aqui apontei, contudo, os treinadores estão agora a “colher” das “plantações” que fizeram no passado.
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