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Pressão obsessiva - Emanuel Lomelino

Em Fevereiro de 2021, escrevi este texto sobre a diferença de entendimento, entre europeus e sul-americanos, sobre o real valor do mundial de clubes.

Enquanto na Europa esta prova é vista como consequência de uma conquista maior, na América do Sul ela é, na quase totalidade dos casos, uma obsessão.

A prová-lo estão as duas últimas edições. Os clubes europeus viajaram para o palco da competição sem grandes alaridos. Por sua vez, Flamengo e Palmeiras, tiveram honras de despedida proporcionadas pelos respectivos torcedores.

Agora, que se aproxima nova edição do Mundial de clubes, voltamos a assistir a todo um Carnaval mediático em redor da equipa liderada por Abel Ferreira, com o foco na possibilidade/obrigação de o clube brasileiro vencer.

Compreendo as razões que deixam os adeptos palmeirenses obcecados. Bem vistas as coisas, não deve ser fácil ser o único clube paulista sem este troféu (S. Paulo tem 3, Santos e Corinthians têm 2 cada) e estar constantemente a ser lembrado, pelos torcedores rivais, dessa lacuna no palmarés.

Neste contexto, e devido à tal diferença de entendimento, o representante europeu deste ano, Chelsea, embora tenha falhado a conquista na única presença anterior e seja considerado favorito, não carrega o mesmo peso de exigência e responsabilidade que o Palmeiras.

Por muito que custe, aos adeptos, jornalistas e demais agentes do futebol sul-americano, acreditar, a verdade é que ninguém na Europa está a discutir probabilidades ou possíveis resultados do Mundial de clubes. E este desinteresse não é demonstração de arrogância ou sentimento de superioridade; é apenas um jeito diferente de encarar o futebol na totalidade, e esta competição em particular.

Nada disto significa que o Chelsea vai menosprezar a prova. Bem pelo contrário. Significa que, quando chegar a hora, independentemente dos adversários, o clube inglês vai entrar para ganhar, mas sem obsessão, porque, mesmo que saia derrotado, esse desaire não irá afectar em nada os objectivos principais do clube: lutar pelo título nacional e pela reconquista da Champions.

Já para o clube brasileiro, um novo vexame pode deixar marcas e colocar em causa todo o trabalho que tem sido feito nas duas últimas temporadas.

Para além disso, esta pode ser a última grande oportunidade para um clube sul-americano ganhar a prova, uma vez que vem aí uma reformulação e, convenhamos, se enfrentar o campeão europeu já é difícil, mais será ter de enfrentar vários clubes europeus de topo e outros poderosos rivais sul-americanos, no mesmo certame.

Em resumo, e para concluir, o Chelsea, por todo o poderio do seu elenco, é franco favorito a vencer este Mundial de Clubes, mas ainda consegue ganhar mais uns pontos de favoritismo pela pressão obsessiva que o Palmeiras carrega. O clube brasileiro entra na competição com a obrigatoriedade de vencer, o clube inglês entra apenas como favorito, mas sem dramas nem exigências.

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