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Febre brasileira - Emanuel Lomelino

Imagem meutimao

Esta moda de, a cada novo despedimento de equipas técnicas nos clubes brasileiros, se cogitarem, em primeiro lugar, nomes de treinadores portugueses, como possíveis substitutos, já começa a assemelhar-se com doença infecciosa que, caso não seja bem tratada, pode começar a gangrenar levando a amputação.

Analogia à parte, esta patologia sugere algumas reflexões; umas mais sérias, outras nem tanto.

Se, por um lado, este interesse colectivo é sinónimo da imagem positiva que os técnicos lusos têm além-fronteiras, por outro, não deixa de ser uma tremenda demonstração de incoerência, que sempre existiu, e de muito desconhecimento, dos dirigentes brasileiros, quando se dão ao ridículo de tecerem comentários sobre duas ou três alternativas lusas que têm a nacionalidade em comum, mas conceitos e entendimentos sobre futebol demasiado distintos para poderem sequer ser cogitados para o mesmo projecto.

Num outro nível, também é curioso ver grande parte da imprensa canarinha, fazer autênticas “teses de mestrado” sobre cada um dos nomes da “moda”, elogiando os esquemas táticos e os conceitos de jogo, e depois rematarem com frases do tipo: “Nunca treinou clubes grandes”, “Nunca teve elencos qualificados”, “Precisa-se provar”, entre muitas outras.

Numa perspectiva menos séria, se esta febre brasileira continuar, temo que, em pouco tempo, a mini-febre lusa por técnicos espanhóis medianos se intensifique cá no burgo, não por falta de qualidade dos nossos profissionais, mas por falta de mão-de-obra.

Indo um pouco mais além na reflexão fantasiosa, com tantos treinadores lusos cobiçados dá para imaginar que, caso tivéssemos o tamanho do Brasil e o mesmo número de clubes intitulados “grandes”, a dança das cadeiras, que tanto contestamos, teria proporções gigantescas e, mais tarde ou mais cedo, poderíamos correr o risco de ver acontecer no nosso universo futebolístico o mesmo que agora se vive no brasil: descredibilização dos treinadores locais. É caso para dizer: ainda bem que somos um país pequeno e com escassos surtos febris.

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