Avançar para o conteúdo principal

O jogo de posições - Emanuel Lomelino

O futebol é um desporto gerador de emoções. Muitas exacerbadas e sem sentido. Outras mais pacificas e agregadoras.

O futebol é a modalidade que gera mais discussão e divide opiniões. Seja pelas decisões dos técnicos, pelos falhanços dos jogadores, pela complacência ou extremo rigor arbitral, pela retórica dirigente, pela agressividade dos cânticos nas bancadas, pelas punições controversas, pelas análises descabidas dos jornalistas, pelas reacções despropositadas dos comentadores.

Em quase todos os aspectos, o futebol não foi, não é e nunca será fonte de unanimidade.

No entanto, existem momentos em que a discórdia é colocada de lado e todos, sem excepção, se posicionam com o mesmo propósito. Temos exemplos disso na luta contra a homofobia e racismo, com os diferentes agentes a manifestarem posições comuns e/ou a juntarem-se a movimentos colectivos actuantes.

Neste contexto, e devido ao conflito bélico estupidamente iniciado esta semana, é totalmente natural, lógico e legítimo, que muitos jogadores ucranianos tenham-se manifestado, de forma clara e incisiva, com acções dentro de campo capturadas pela câmaras de televisão e vistas por milhões de pessoas em todo o mundo.

Por norma, este género de acções, com cunho político, são sancionadas pelos organismos máximos do futebol. Contudo, nos diversos casos que aconteceram durante alguns jogos recentes das competições europeias, surgiu um fenómeno de solidariedade espontâneo por parte de elementos ligados ao jogo, cujos relatórios costumam ser decisivos na hora de aplicar punições. Falo das equipas de arbitragem que tiveram o bom senso de omitir, nas súmulas, os gestos e manifestações dos atletas ucranianos.

Parabenizo todas as equipas de arbitragem que, com estas omissões, demonstraram que, no jogo da vida, não há lugar nem espaço para ficar-se em cima do muro. Com esta atitude, também eles – os árbitros – revelaram ao mundo o seu posicionamento em relação ao estúpido e ignóbil conflito.

Sim, o futebol é um jogo de emoções e origina discórdias. Mas, por vezes, todas as regras são deixadas de lado e, este desporto que tanto amamos, regressa às suas origens e transforma-se num jogo de cavalheiros.

Leiam mais textos sobre Arbitragem neste link

Acompanhem-nos no Twitter e no Facebook

Comentários

Mensagens populares deste blogue

No lado errado da estrada - Emanuel Lomelino

Imagem UOL Não há quem possa colocar em causa o talento, com laivos de genialidade, de Neymar, no entanto, por culpa de astros anteriores, e até contemporâneos, ser craque exige muito mais do que a qualidade em campo. Podem existir muitas razões para explicar a instabilidade de Neymar, mas a mais óbvia está umbilicalmente ligada à sua necessidade, quase obsessão, em andar nas bocas do mundo, a toda a hora. Desde muito cedo na sua carreira, e talvez por isso, ficou evidente a falta de formação humana que lhe deviam ter incutido. Ao contrário de outros grandes jogadores, Neymar nunca quis abdicar de uma vida boémia, qual menino mimado, para se dedicar de alma e coração à carreira escolhida. Só que essa recusa tem um preço a pagar. Mais ainda se a tudo isto juntarmos o facto de, no mesmo espaço temporal, existirem Messi e Ronaldo, e agora terem aparecido Mbappé e Haaland. Neymar até não tem sido menos “bad boy” que outros craques do passado, como Romário ou Ronaldinho Gaúcho, mas

Uma Vez Flamengo... - Adriana Mayrinck

Pintinho em um Fla x Flu. Foto do seu arquivo pessoal Flamengo e Fluminense (fotos retiradas da internet) Uma lembrança longínqua, não sei ao certo a minha idade, talvez cinco ou seis anos. Lembro-me dos detalhes da sala, do tapete em que eu ficava deitada em almofadões, com as minhas botas vermelhas, a poltrona do “papai” como era chamada, aquele lugar que só o meu avô podia sentar, ao lado de uma mesinha com tampo de mármore, sempre com um copo de cerveja Skol e uma latinha ao lado, em frente a uma TV. Não lembro quase nada dessa época, algumas coisas muito pontuais, talvez por tantas vezes ver as fotografias, no tempo que morei no apartamento dos meus avós, na Gonçalo de Castro, enquanto a nossa casa era construída, em um condomínio ASBAC, na Granja Comary, em Teresópolis. Mas lembro que andava pelos calçadões de Copacabana com os meus três anos de idade, lembro do balanço na pracinha Serzedelo Correia, quando, recém-chegada de Recife, onde nasci, aprendi a amar aquele bairro. P

Surpresa ou início de novo ciclo - Emanuel Lomelino

Imagem A Bola (José Lorvão) Vivemos um tempo atípico e, tal como está a acontecer noutras áreas, por todo o mundo, também o futebol está a ser influenciado por essa falta de normalidade. No caso português, e considerando as últimas quatro décadas, fica um pouco estranho ver o Sporting Clube de Portugal na liderança do campeonato, mais ainda com a vantagem pontual tão acentuada. É certo que ainda agora começou a segunda volta e faltam muitos jogos. Também é verdade que as outras equipas têm estado aquém do esperado. No entanto, não deixa de ser surpreendente um domínio tão avassalador. Como se explica que esta equipa, quase na totalidade composta por jovens jogadores da formação, com um treinador também em início de carreira, sem qualquer fora de série, e que inicialmente nem era vista como candidata a ganhar troféus, demonstra em campo, jornada após jornada, este nível de competência? Mesmo sendo adepto do Sporting , e estar a deliciar-me com a forma como a época está a deco