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A carroça à frente dos bois - Emanuel Lomelino

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A expressão que dá título a este texto aplica-se bastante à forma como, muitas vezes, os portugueses analisam determinados assuntos.

Sou apologista de encaramos todas as situações com optimismo, no entanto, não embarco nas ondas de entusiasmo fora da realidade. Tal como toda a gente – permito-me colocar nestes termos, mesmo sabendo que não é inteiramente verdade – também desejo que os clubes nacionais consigam atingir, com mais frequência, as finais europeias. Contudo, nunca esqueço as enormes diferenças, desportivas e económicas, que nos separam de muitos clubes de outros campeonatos. Mais ainda porque actualmente não existe apenas um representante de cada campeonato, mas sim vários, e todos poderosíssimos.

O anteriormente escrito serve para contestar a forma como muitos analistas abordaram os sorteios das quartas de final das competições europeias.

As qualificações de Benfica e Braga são de louvar; merecem elogios, mas estão longe de significar voos maiores.

Uma coisa é desejar que as duas equipas portuguesas, ainda em prova, possam chegar aos jogos decisivos, outra, bem distinta, é fazer contas sobre a possibilidade de termos quatro equipas na Champions do próximo ano, como se os adversários sorteados fossem peras doces e as nossas equipas dotadas de enorme capacidade competitiva além-fronteiras.

Na Champions teremos o Benfica a tentar a sua sorte. Ninguém diz que é impossível, mas convenhamos que ultrapassar Liverpool, depois Villarreal ou Bayern, e disputar a final contra Chelsea, Real Madrid, Manchester City ou Atlético de Madrid seria um feito memorável, hercúleo e surpreendente.

Quanto à Europa League, uma coisa, sendo rara, foi termos três representantes (Porto, Benfica e Braga) na mesma fase, em 2011, em compita com clubes como Spartak Moscovo, Dinamo Kiev, PSV Eindhoven, Villarreal e Twente, outra bem mais complicada é termos apenas o Braga a disputar com Rangers, West Ham, Lyon, Frankfurt, Leipzig, Atalanta e Barcelona. Também neste caso podem-se aplicar os mesmos adjectivos qualitativos.

Perante os quadros descritos, parece-me surreal ouvir falar sobre a possibilidade da nossa representação, na Champions do próximo ano, aumentar.

Sim, deseja-se o êxito dos clubes nacionais, mas um pouco de realismo na hora das análises não prejudica ninguém. Para ganhar audiência, ou cliques, não pode valer tudo, e o sensacionalismo só serve para enganar os incautos. Esperemos os próximos capítulos com os pés bem assentes no chão e deixemos, de uma vez por todas, de colocar a carroça à frente dos bois. É que assim, depois, dói menos.

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