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Quando a paixão tolda a razão - Emanuel Lomelino

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Não é novidade o grau de paixão que os adeptos exalam quando as suas equipas jogam. Uns mais, outros menos, mas todos torcem movidos pelo sentimento, chegando alguns a fazê-lo cegamente.

Mesmo com essa paixão exacerbada em comum, existem três géneros de adeptos:

- Aqueles que só veem a sua equipa e analisam cada lance em função do resultado da acção (se o passe foi bem feito o jogador é assertivo, se errou é mau demais; se o remate foi bem direccionado joga muito, se foi ao lado é um pé de rato; se fez um golo fácil é oportunista e sempre bem colocado, se falha um golo cantado é ruim e não tem categoria para estar no clube; se o jogador que entra a substituir outro faz golo, devia ser titular de caras e o técnico é um génio, se entra e pouco acrescenta não merece mais oportunidades e o treinador é burro por coloca-lo em campo).

- Aqueles que justificam tudo através de influências alheias; (se o jogador da sua equipa cai numa jogada dividida, logo a arbitragem esteve mal porque não marcou falta, ou porque não deu cartão, ou porque o cartão deveria ser de outra cor, se é um jogador adversário a cair, o árbitro esteve mal porque não sancionou como simulação, ou porque marcou uma falta inexistente, ou porque mostrou cartão de forma indevida, ou porque exagerou na cor do cartão; se a sua equipa domina uma partida mas marca de forma fortuita é merecido ter sorte pelo menos uma vez, se esse golo não aparece e, mesmo dominando, perde o jogo, sua equipa é azarenta e tudo conspira contra.

- Aqueles que nunca estão satisfeitos com os jogadores da sua equipa, mesmo quando as coisas correm bem e as vitórias acontecem.

É por causa destes últimos que decidi escrever este texto.

Na última quarta-feira o Palmeiras jogou em casa dos equatorianos do Emelec, tendo vencido por 1-3, com golos de Rony, Veron e Breno Lopes, em partida da terceira jornada da fase de grupos da Libertadores.

Pois bem, assisti a este jogo num canal de Youtube e, acompanhando os cometários dos adeptos brasileiros ao desenrolar da partida, fiquei com a sensação de estar a ver um jogo diferente deles. Mesmo com a equipa bem colocada em campo e a dominar desde o início, todos viam falta de agressividade e empenho de jogadores que, na minha forma de ver futebol, estavam a ser determinantes para esse domínio. O mais interessante foi verificar que, para a maioria, Rony é um jogador medíocre e nem devia jogar no Palmeiras.

Mesmo entendendo a intensa paixão destes adeptos, exponenciada pelos nervos que uma partida do nosso clube acarreta, não consigo compreender a avaliação tendo em conta que, mesmo não sendo um goleador puro, este jogador é o maior marcador, da história do clube, na Libertadores, à frente do craque Alex e de Raphael Veiga.

Sim, concordo que Rony tem falhado muitos golos, mas, repito, ele não é nem nunca será um avançado centro de raiz. Se a este detalhe juntarmos a disponibilidade e sacrifício que o jogador tem colocado em campo em prol da equipa, acho tremendamente injusto que, levados apenas pela paixão, existam adeptos incapazes de demonstrar um pouco de reconhecimento pelo muito que ele tem contribuído nos sucessos recentes do clube.

Felizmente para ele, tanto a comissão técnica, liderada por Abel Ferreira, como os companheiros de equipa, têm feito esse reconhecimento e demonstrado toda a confiança nele, talvez por isso, Rony, mesmo não fazendo partidas de encher o olho, continua na sua regularidade a fazer aquilo que nenhum avançado centro do clube tem conseguido fazer. E também por isso o Palmeiras continua a ser um clube vencedor.

Leiam mais textos sobre Jogadores neste link

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