Foi muito interessante ouvir a entrevista que o técnico brasileiro Tiago Nunes deu no Canal 11. Segundo as suas palavras, esta viagem que realizou à Europa teve o propósito de aprofundar o seu conhecimento sobre a realidade de algumas competições europeias, tendo assistido a partidas da Champions League, das duas principais divisões espanholas e também dos dois principais escalões de Portugal.
Tiago Nunes falou das diferenças que encontrou, em relação ao futebol brasileiro e sul-americano, dando maior destaque ao facto de, por cá, dar-se muito mais importância aos aspectos táticos, que são visíveis em cada partida, em detrimento das qualidades técnicas dos jogadores, que não são muito exploradas. Neste contexto, o treinador brasileiro disse ter ficado surpreendido com a disponibilidade dos jogadores e apontou essa componente, mais colectiva que individual, como sendo a base que explica as dificuldades, cada vez maiores, que a selecção brasileira encontra sempre que enfrenta selecções europeias nos mundiais.
Quando questionado sobre as razões que levam os treinadores canarinhos a mudar de clube com tanta frequência, Tiago Nunes não se furtou ao tema e, correlacionando o assunto com a chegada de muitos técnicos estrangeiros, explicou que o maior entrave, para os técnicos locais terem mais sucesso ou, pelo menos, mais tempo de trabalho, é precisamente o facto de serem brasileiros e, ao contrário dos treinadores vindos de fora, não terem o distanciamento suficiente para trabalhar alguns aspectos que, sendo importantes, no Brasil não são valorizados. Por outro lado, também justificou a falta de projectos sérios e continuados com a pressão exercida pelos adeptos, à qual, a maioria dos dirigentes não oferece muita resistência. Deu como exemplo a sua passagem pelo Corinthians, cuja dimensão e história impedem a existência de trabalhos a longo prazo, pela urgência dos torcedores em resultados imediatos.
Nesta entrevista, Tiago Nunes expressou vontade de um dia treinar na Europa e falou dos trâmites burocráticos existentes, pelos acordos entre a UEFA e a CONMEBOL, que são entraves à vinda de mais treinadores brasileiros para o velho continente. O aspecto mais relevante é o facto de a equivalência dos cursos só ser dada a técnicos com mais de sessenta meses de trabalho em ligas principais. Isto é, para os treinadores brasileiros conseguirem trabalhar na Europa, para além do curso máximo da CONMEBOL, têm de acumular cinco anos de trabalho na série A do Brasileirão. No entanto, esse tempo acaba por ser maior por via dos inúmeros despedimentos que interrompem essa contagem temporal.
Embora a cronologia da conversa não tenha sido esta, destaco o agrado do técnico brasileiro pela disponibilidade que encontrou, junto dos seus colegas europeus, na partilha de experiências e conhecimento, com explicações detalhadas sobre os métodos de trabalho, organização de competições, e logística. Deixei este apontamento para o final deste texto porque, tal como tenho escrito inúmeras vezes, a diferença entre treinadores europeus e brasileiros não está na qualidade técnico-táctica, mas sim na forma de entendimento do futebol como um todo e, principalmente, na partilha e estudo.
Os bons treinadores não são apenas aqueles que ganham mais troféus. Com esta entrevista, Tiago Nunes demonstrou ser um bom técnico, com vontade de evoluir, disponível para aprender, e ser ainda melhor.
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