Ser treinador de futebol não se resume ao conhecimento técnico e tático do jogo. Existem muitos outros atributos essenciais que fazem parte dessa função. No entanto, porque a história deste desporto foi construída neste sentido, todos os que enveredam pela profissão estão sujeitos ao máximo escrutínio e são julgados pelos detalhes, muitas vezes fora da sua responsabilidade directa, mas que dão um enorme cunho de fragilidade a este posto.
Dou dois exemplos que provam o parágrafo anterior.
Exemplo um - fragilidade por abandono:
Paulo Sousa foi contratado para fazer uma remodelação na estrutura do plantel e obrigar alguns elementos a saírem do estado letárgico e conformista em que ficaram após as grandes conquistas de 2019. Mesmo admitindo que o trabalho realizado, ao nível de campo, ficou muto longe do desejado, ele chegou e começou a fazer o que lhe havia sido pedido, mas - aqui entra um gigantesco mas – ao mexer no vespeiro, sendo esperada alguma resistência, não teve o respaldo necessário, por parte de quem o contratou, para poder levar o projecto a bom porto. Para esse “abandono” muito influiu a questão Diego Alves que, já no passado, tinha demonstrado ser o péssimo elemento de balneário. Mexer com a abelha-rainha fez com que muitos “zangões” se unissem no propósito de restabelecer o “status quo” instalado e, assim, boicotar o treinador. E os “zangões” que menciono não são apenas jogadores e dirigentes menores do clube, são também jornalistas com forte componente cooperativista, que sobrevivem, não pela qualidade ética da profissão que exercem, mas pelo aproveitamento covarde da paixão das massas adeptas, sempre suscetíveis, maleáveis e irracionais.
Esse aproveitamento covarde pode ser exemplificado, precisamente, com o caso Diego Alves. Ao chegar no clube, Paulo Sousa apostou no guarda-redes internacional brasileiro, mas cedo percebeu, pelos inúmeros erros que valeram pontos perdidos, que tinha de tentar solucionar o problema e decidiu entregar a titularidade ao jovem promissor Hugo Souza. Mesmo após alguns jogos com atuações decisivas, a primeira falha foi suficiente para que os “sem ética” começassem a detonar as capacidades do jovem guardião e não mais deixaram de o fazer. Aliás, esse “linchamento” organizado acabou por ser reforçado e mais intenso quando o treinador português, confrontado com a não utilização de Diego Alves, disse frontalmente que não confiava no momento de forma desse jogador. E aí a coisa escalou e Paulo Sousa viu-se desamparado e a sua saída tornou-se inevitável.
Curioso é vermos o novo treinador, Dorival Junior, que teve problemas semelhantes com esse jogador, na passagem anterior pelo clube, dar-lhe a titularidade no primeiro jogo que dirigiu. Mais curioso é verificarmos que Diego Alves cometeu dois erros, muito idênticos aos que haviam sido cometidos pelo Hugo Souza, e os “cooperativistas” remeteram-se ao silêncio. A terceira curiosidade, mero apontamento de observação, essas falhas valeram uma derrota maior do que qualquer uma sofrida sob comando do Paulo Sousa.
Exemplo dois - fragilidade por ineficácia:
Fernando Diniz nunca foi um treinador unânime, bem pelo contrário, mesmo sendo reconhecida e aplaudida a sua entrega ao estudo e tentativa de implementar um jogo positivo nas equipas que dirige.
Independentemente da discussão sobre a forma como tenta que as suas equipas joguem, este técnico brasileiro, tal como todos os treinadores do mundo, passou de bestial a besta numa fracção de segundos, sem que na avaliação tenham sido considerados os aspectos que fogem do seu controlo, mas que serviram para, uma vez mais, surgirem as críticas mais duras e severas, porque fáceis.
Após uma vitória importante sobre um candidato ao título, a equipa de Fernando Diniz averbou uma derrota inesperada, perante o seu público. Se com a vitória, e apesar de alguns erros defensivos, a imprensa o elevou aos topo da maestria, com a derrota, foi empurrado ladeira abaixo e considerado o maior responsável pelo fraco resultado quando, em bom abono da verdade, e por isso a comparação com todos os treinadores do mundo, quem viu a partida não pode, nem deve, condenar um técnico de forma tão vil, quando os jogadores da equipa falham, jogada após jogada, golos fáceis que poderiam dar outro rosto ao placar final.
Ser treinador de futebol, para além dos atributos técnicos e táticos, acarreta muitas outras responsabilidades, no entanto, na hora de se fazer avaliações sobre o trabalho realizado, quase ninguém refere a influência dos anti-corpos nem atenua as críticas por situações de incompetência alheia ao técnico, porque é mais fácil, e cómodo, atacar o lado mais frágil.
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