Terminou a primeira volta (primeiro turno, como se diz no Brasil) do Brasileirão e é hora de fazer um pequeno balanço dos trabalhos realizados pelos treinadores portugueses envolvidos na competição.
Paulo Sousa começou a temporada com a missão de alterar drasticamente a estrutura futebolística do Flamengo, mas as mudanças pretendidas acabaram por não ter eco junto dos jogadores e as convicções dos dirigentes cariocas revelaram ser vazias ditando o afastamento do técnico por pressão popular. Pessoalmente, toda a história em redor da passagem do treinador luso no clube apenas serviu para provar que o acerto na contratação de Jorge Jesus foi um mero acaso. Houve uma aposta cega que deu certo. Houve outra que deu errado.
António Oliveira entrou no Cuiabá com a época já em andamento e, sejamos honestos, não tem plantel para almejar mais que uma luta sofrida, até ao final da temporada, para evitar a descida de escalão. Sem ovos pode-se fazer tudo menos omeletes.
Luís Castro foi contratado para lançar as bases necessárias para a restruturação do futebol do Botafogo, acabado de regressar ao Brasileirão. A transformação do clube em sociedade anónima, e respectiva aquisição por parte de um investidor americano (John Textor – o mesmo que detém o Crystal Palace), criou enormes expectativas – quase todas infundadas e utópicas – nos adeptos alvinegros. Neste cenário, e com as especificidades competitivas e organizativas do futebol brasileiro, o treinador luso tem sentido algumas dificuldades em fazer os adeptos entenderem que este género de projecto demora algum tempo a dar frutos e que, nesta fase, não há, nem haverá, matéria humana suficiente e adequada para que exista estabilidade nos resultados. Menos ainda quando muitos dos jogadores do clube passam mais tempo na enfermaria do que em campo.
A chegada de Vítor Pereira ao Corinthians foi uma surpresa. Sobretudo porque, conhecendo o seu grau de exigência, tanto com os jogadores como com o seu próprio trabalho, era evidente que o plantel do clube tinha sido construído de forma deficiente e desequilibrada, logo inadequada para que pudesse trabalhar de acordo com a sua filosofia. No entanto, e apesar dos inúmeros questionamentos “questionáveis”, o técnico português conseguiu, através do seu conhecimento de futebol e, principalmente, capacidade de trabalho, colmatar algumas lacunas e manter o clube na disputa de troféus. Se irá ganhar algum ninguém sabe, mas que está na luta, lá isso está.
Abel
Ferreira, que chegou ao Palmeiras como terceira ou quarta escolha, teve de
enfrentar o descrédito geral com trabalho árduo e bastantes contrariedades. A
conquista de troféus importantes transformou-o num semideus do universo
palmeirense e hoje, com o seu próprio crescimento como técnico, já consegue ser
visto, e acima de tudo tratado, com o respeito que lhe foi negado nos primeiros
tempos.
Depois de duas Libertadores, uma Copa do Brasil, uma Supercopa Sul-americana e um Estadual, o treinador português sentiu a necessidade de provar que também tem capacidade para vencer uma prova de regularidade e o percurso até aqui tem sido feito nessa direcção. Neste contexto, não posso deixar de referir que a vantagem actual só não é maior por culpa do próprio Palmeiras. A derrota com o Athletico e os empates com Avaí e Fortaleza retiraram a possibilidade do clube chegar a meio do Campeonato com onze pontos de vantagem para o mais directo perseguidor e, assim, ficar mais confortável para gerir o plantel de forma a poder lutar, com outra tranquilidade, pela conquista da terceira Libertadores consecutiva.
Resumindo:
Paulo
Sousa fracassou por culpa própria, mas também por falta de convicção de quem o
contratou.
António
Oliveira terá muitos problemas para triunfar porque escolheu aceitar trabalhar num
clube que pouco mais almeja que a permanência no principal escalão.
Luís
Castro tem capacidade para levar a bom porto o trabalho que lhe foi pedido pelo
clube, mas o sucesso ou fracasso vai depender da forma como a administração
reagirá às pressões dos adeptos, que continuam iludidos com a criação da
sociedade anónima e pensam que Textor vai inundar o clube com reforços de peso e
dinheiro.
Vítor
Pereira nunca foi de atirar a toalha ao chão e não vai deixar de lutar, com as poucas
armas que tem, para entregar um ou outro troféu nesta sua passagem pelo Brasil.
E não creio que ela se prolongue além desta temporada. O contrário seria o
prolongar da surpresa.
Abel Ferreira já deixou a sua marca no clube e, neste momento, está apenas a tentar acrescentar mais alguns capítulos à sua história. Sem chauvinismos, acredito que o jovem treinador luso vai continuar vitorioso nesta sua passagem em terras de Vera Cruz. Para satisfação nossa, alegria dos adeptos e realização pessoal dele.
O resto... só saberemos no final da temporada.
Leiam mais textos sobre o Brasileirão neste link
Comentários
Enviar um comentário