Mais uma vez, para não variar, e encher programas desportivos, os temas abordados nos órgãos de comunicação social variam entre os camiões de dinheiro gastos pelo Benfica e a destabilização da equipa do Sporting por perder dois ou três “jogadores-chave”.
Aceitando que a linha editorial responde ao interesse dos adeptos mais fervorosos, porém mais influenciáveis, não deixo de considerar que existem outros, nos quais me incluo, que munidos da mesma paixão clubística usam uma boa dose de razão nas análises aos momentos dos clubes.
Deixando de lado as questões benfiquistas que, sendo importantes para analisar, não estimulam tanto a minha reflexão desportiva, mais não seja porque desconheço os méritos do clube para, apesar das crises financeiras recorrentes, sempre encontrarem forma de arranjar dinheiro para contratações, normalmente fora do alcance dos clubes portugueses, prefiro dedicar algumas linhas à realidade leonina.
Para contextualizar, deve ter-se em conta que o Sporting actual tem um projecto desportivo assente na formação e saneamento financeiro. Partindo destes pressupostos fica fácil entender a política de austeridade, na hora de reforçar a equipa, e a vulnerabilidade perante boas ofertas pelos melhores jogadores.
Não sendo perito na matéria, nem tampouco estar especialmente informado sobre a realidade económica do clube, consigo entender as dificuldades de conciliação entre finanças e competitividade.
Se, por um lado, existe a necessidade de equilíbrio financeiro do clube e a opção, legítima, natural e histórica, pela formação, por outro temos a ânsia de títulos por parte da massa adepta que, em grande maioria, não quer saber dessas questões laterais e exige resultados desportivos.
Sendo evidente que nem todos os anos vão aparecer craques da formação, e noutros casos é necessário tempo para que o talento de alguns sobressaia, creio ser adequada a aposta simultânea em jogadores jovens que surgem no mercado nacional e, pontualmente, um ou outro jogador mais “cascudo”, mesmo que por empréstimo, para reforço da equipa.
Aliás, tem sido desta forma que Rubem Amorim tem conseguido extrair rendimento e alcançar resultados.
O problema é que, neste momento, o clube ainda não tem condições para resistir às investidas exteriores e, por essa fragilidade, não tem feito vendas por valores que façam os adeptos acreditar na viabilidade do projecto. Para a maioria é difícil entender como João Palhinha, com todo o seu talento, saia por “meros” vinte milhões, ou que Matheus Nunes, tão preponderante na equipa, renda “apenas” entre 45 a 50 milhões.
Aqui chegados, e regressando ao início deste texto, é notório como a imprensa tem gerido as análises à questão leonina e explorado as diferenças entre os comportamentos das direcções dos dois clubes lisboetas, dando ênfase as contratações dos encarnados e ao défice competitivo dos leões pela venda de activos. Para mim não existe paralelismo entre as duas realidades.
Para além disso, e mesmo aceitando como válida a ideia de perda de valor do plantel leonino com as saídas de jogadores importantes, não deixa de ser verdade que, nos últimos anos, têm saído jogadores considerados “indispensáveis”, com todos a verem um decréscimo competitivo difícil de contornar, e o clube, por mérito de Ruben Amorim, tem sabido encontrar e apresentar alternativas.
É óbvio que nem sempre isso vai ser possível, no entanto, mantendo as ideias iniciais do projecto e não desvirtuando a política actual, o Sporting está no bom caminho, tanto mais que já ficou provado, com os quatro títulos nos últimos dois anos, que é possível ser competitivo com investimento inferior ao grande rival.
Quanto às saídas deste defeso, afirmo o mesmo que escrevi aquando da saída de João Mário: o Sporting, para ser um clube evoluído, não pode ficar refém de jogador algum, por mais difícil que seja repor peças. João Palhinha e Matheus Nunes foram importantes nas conquistas recentes do clube, todos lhes agradecemos o esforço, dedicação, devoção e glória, mas o Sporting não pode parar e, com maior ou menor dificuldade, vai voltar a encontrar forma de manter-se competitivo.
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