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Uma boa vantagem - Emanuel Lomelino

No início de cada temporada todos fazemos prognósticos sobre os candidatos ao título. No caso do brasileirão, era quase consenso geral, para não dizer unanimidade, que existiam três candidatos claros, ao triunfo final.

Ao longo da temporada vamos aumentando ou diminuindo as possibilidades de cada um em conformidade com os resultados e qualidade das performances, avaliando elencos, calendário, e consequências próprias do cúmulo, ou eliminação, de competições simultâneas.

Com base no anteriormente exposto, tenho acompanhado de perto as avaliações dos “entendidos” e as opiniões têm vindo a sofrer múltiplas alterações.

Recordo que, à segunda jornada, na sequência de uma derrota caseira e um empate forasteiro, o Palmeiras era acusado de estar a negligenciar o Campeonato em detrimento das provas a eliminar (Copa e Libertadores), e os cinco pontos de atraso já vaticinavam uma época medíocre.

Depois a realidade competitiva alterou-se e, quando faltam quinze rodadas para o término da prova, a equipa comandada por Abel Ferreira tem uma vantagem de oito pontos sobre o segundo classificado: Fluminense.

Já os outros candidatos iniciais, Flamengo e Atlético Mineiro, estão a nove e catorze pontos respectivamente.

Noutros campeonatos, este género de vantagem, proporciona uma gestão mais tranquila e, quem a obtém, raramente a perde.

Num campeonato como o brasileiro, com a densidade competitiva que todos reconhecemos e o número de equipas consideradas grandes que, apesar de maus elencos e/ou momentos de maior fragilidade económica e competitiva, disputam cada partida como se estivessem a lutar pelo triunfo final, basta uma sequência de resultados menos positivos para que tudo se altere.

No entanto, há um pequeno detalhe que pode fazer toda a diferença. Abel Ferreira, apesar de estar a trabalhar no Brasil há menos de dois anos, é o mais experiente no entendimento de uma competição de regularidade, como um Campeonato de pontos corridos.

Para muitos analistas, o jogo praticado pelos palmeirenses deixa muito a desejar e não lhes transmite a confiança suficiente para apostarem na vitória final. Menos ainda porque o elenco do rival Flamengo continua a ser fortemente apetrechado. No entanto, aquilo que no papel pode parecer perfeito, nem sempre tem repercussão prática.

Numa outra perspectiva, segundo os mesmos analistas, a vantagem, de nove pontos, para o todo-poderoso clube carioca não é suficiente tendo em conta o grau de dificuldade das partidas que o Palmeiras ainda tem até final da competição. No meu ponto de vista, esta tese também é fraca porquanto os jogos do Flamengo não serão todos fáceis e nada garante que “a companhia das estrelas” consiga vencer tudo e todos. Para além de não ser fácil vermos uma equipa, que em vinte e três jogos apenas perdeu dois, perder mais três em quinze. Menos ainda se atentarmos em dois factos curiosos: o Palmeiras tem a melhor defesa do Campeonato e é, com folga, a melhor equipa visitante, sem qualquer derrota.

Enquanto os brasileiros continuam a avaliar performances e a contestar resultados diferentes da vitória, o treinador luso sabe que, em algumas partidas, a segurança de um empate é mais importante que uma derrota resultante de uma postura mais ofensiva em duelos directos com candidatos fortes. A prova disso já foi dada em três ocasiões-chave: quando defrontou o vice Atlético MG, empatou; quando defrontou o vice Corinthians, venceu; quando defrontou o vice Flamengo, empatou. (Nota curiosa, o próximo jogo será contra o vice Fluminense. Não há registo de um clube ter disputado tantos jogos com tantos vices diferentes numa só temporada).

Por esta razão, e mesmo faltando uma quinzena de jogos, creio que o Palmeiras tem uma gordura pontual suficiente para conseguir conquistar a prova deste ano.

Sim, vai perder pontos e talvez um ou dois jogos, mas os outros não sairão imbatíveis até final da temporada.

E cada jornada disputada será menos uma rumo ao maior objectivo de Abel Ferreira: ganhar o único troféu que lhe falta no Brasil. Sem deixar de cobiçar a proeza máxima: vencer a terceira Libertadores, em sequência.

Leiam mais textos sobre o Brasileirão neste link

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