Nunca fui, nem serei, apologista da exacerbação das qualidades e méritos das equipas, sejam elas quais forem e compostas pelos jogadores que forem, nem caio na tentação de afirmar conquistas inequívocas, como fazem argentinos e brasileiros, quando os resultados são retumbantes, e alguns lances de génio acontecem em sequência, como se o futebol fosse uma ciência exacta.
Mas também não faço parte daqueles que sempre auguram o pior e apenas analisam as fragilidades, ignorando sistematicamente os méritos e as reais possibilidades de uma equipa.
Muitos podem dizer que esta postura é “ficar no muro”. Eu prefiro analisar friamente e tirar as minhas conclusões, que não serão mais acertadas ou erradas, apenas mais coerentes. Umas vezes acerto, outras longe disso.
Os parágrafos anteriores servem de introdução para explicar as razões que me levam a ser, cada vez mais, desconfiado das análises e comentários que oiço sobre a selecção nacional.
Este sentimento não é de agora, mas neste final de semana foi mais evidente que a imprensa portuguesa prefere a mediocridade de antigamente aos êxitos actuais.
É complicado aceitar todo o ruído feito na sequência da recusa de Rafa em representar a selecção. Nomeadamente, quando um “comentador” afirmou que as reais razões pessoais desta decisão estavam umbilicalmente ligadas ao facto de: “na selecção só jogarem os amigos de Cristiano”, esquecendo que Rafa, apesar da pouca utilização, também foi Campeão Europeu e Vencedor da Liga das Nações.
Mais grave foi, o mesmo “comentador”, levantar suspeitas sobre a dispensa de Pepe, dizendo que aconteceu: “para não fazer um teste antidoping”.
Também fica difícil compreender que, durante o jogo com a Chéquia, que não estava a criar perigo algum, e com Portugal a ganhar, o comentador de serviço tenha afirmado que a selecção tinha de melhorar muito sob risco de a qualquer momento os bons jogadores checos começarem a superiorizarem-se na partida. Ainda fiquei a pensar se o meu problema de visão estava a piorar, pois não conseguia enxergar essa qualidade dos checos, tampouco o mau futebol da equipa das quinas.
Mas a leviandade não ficou por aqui. Num outro canal, após a partida, pouco ouvi falar do jogo, porque os comentadores preferiram debater a não chamada de Moutinho nesta convocatória e o que isso pode representar como antecâmara do Mundial.
E porque a postura “anti-selecção” não é restrita, hoje a capa de um dos jornais desportivos coloca em causa a importância de Ronaldo, no grupo.
Tal como afirmei no início deste texto, não sou apologista da exaltação exacerbada nem do descrédito total. Acredito que há um meio termo mais saudável e honesto.
Creio que não cairia nenhum braço à imprensa nacional se elogiasse a boa partida da selecção. Também não creio que fizesse mal admitir que, mesmo com menor vigor físico, Cristiano Ronaldo ainda pode ser útil à equipa. Não creio que seja razoável falar-se mais dos ausentes do que dos convocados. Acho que seria mais produtivo analisar-se o global do que o particular. Acredito que seria mais honesto separar-se o jornalismo da tendência clubista.
Às vezes dou por mim a desejar que a imprensa nacional tivesse momentos argentinos ou brasileiros, para equilibrar as coisas.
Eles são demasiados optimistas, os nossos são excessivamente apegados à mediocridade.
Os sul-americanos exaltam os seus, mesmo quando não fazem por merecer elogios, os portugueses adoram crucificar mesmo nos bons momentos.
Por norma, em assuntos tão específicos, não costumo generalizar, no entanto, desta vez têm de comer todos pela mesma tabela. Pode ser que assim, os justos também se revoltem com o mau trabalho realizados por membros da classe.
O “consumidor” consciente merece mais respeito e o jornalismo merecia melhores representantes.
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