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Portugal no Mundial - Emanuel Lomelino

Por falta de tempo não consegui escrever antes um texto sobre as reais possibilidades da selecção portuguesa neste mundial.

Sei que para muitos, fazê-lo após o primeiro jogo, pode parecer tarefa facilitada, no entanto, a partida contra o Gana revelou muito daquilo que penso em relação à nossa equipa nacional.

A qualidade individual não pode ser colocada em causa e nesse quesito estamos com um plantel monstro, posição por posição, que pode ombrear com qualquer adversário.

A incógnita, pelo menos para mim, reside na capacidade de usar todo o talento individual em benefício do colectivo.

Cada um de nós é um treinador em potência, mas sem a responsabilidade de gerir o grupo como tem Fernando Santos, nem poderes para evitar erros individuais, como os que aconteceram neste primeiro jogo.

Ao contrário de alguns comentários, de jornalistas/imbecis, que ouvi no pré-jogo, e independentemente dos troféus já conquistados, Fernando Santos tem, sim, carta branca para tomar todas as decisões que quiser. É para isso que continua a ser o seleccionador. O que ele não pode fazer é ignorar que, neste momento, tem nas mãos um grupo de jogadores que sabe, pode e deve ser utilizado de forma diferente.

Mesmo com alguns jogadores que estiveram na conquista do Europeu, a verdade é que este grupo tem agora outras valências e não é necessário ser tão cauteloso na abordagem às partidas, principalmente contra equipas claramente inferiores.

Com este plantel é possível subir mais as linhas e expor um pouco as costas da defesa.

Com estes jogadores dá para jogar de forma mais incisiva, mais objectiva, sem perder a capacidade de ritmar o jogo.

Na partida contra Gana deu para perceber que há disponibilidade de todos os jogadores para pressionar forte e recuperar a bola em zonas altas. Só falta dar-lhes a liberdade para serem mais agudos após a recuperação, em vez de recuar e reiniciar o processo ofensivo.

É evidente que as coisas funcionam melhor quando se tem os melhores disponíveis, mas mesmo com uma ou outra alteração no onze base dá para executar outro futebol.

A ideia de colocar Bernardo Silva no meio já demonstrou ser correcta, no entanto para poder ser peça de desequilíbrio não pode recuar tanto.

João Félix não pode ficar preso a uma ala. Tem de ser mais vagabundo para contrariar as defesas mais fechadas.

O mesmo tem de ser feito com o posicionamento de Bruno Fernandes. Fixá-lo em permanência na ala anula os atributos ofensivos de Cancelo.

Enfim, este texto não é sobre escalação de onzes, mas há tanta rigidez na formação tática da equipa que, caso não sejam colocadas em prática abordagens diferentes, a selecção dificilmente conseguirá alcançar o resultado que, pela qualidade global, tem possibilidades de conseguir.

À partida, Portugal não está no leque de favoritos para a conquista deste mundial, contudo, com a qualidade existente, a vontade demonstrada, maior concentração evitando erros graves e postura tática adequada, este grupo de jogadores pode carimbar com estrondo a ideia de ser a melhor geração que já representou o nosso futebol.

Leiam mais textos sobre a Selecção neste link

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