Por falta de tempo não consegui escrever antes um texto sobre as reais possibilidades da selecção portuguesa neste mundial.
Sei que para muitos, fazê-lo após o primeiro jogo, pode parecer tarefa facilitada, no entanto, a partida contra o Gana revelou muito daquilo que penso em relação à nossa equipa nacional.
A qualidade individual não pode ser colocada em causa e nesse quesito estamos com um plantel monstro, posição por posição, que pode ombrear com qualquer adversário.
A incógnita, pelo menos para mim, reside na capacidade de usar todo o talento individual em benefício do colectivo.
Cada um de nós é um treinador em potência, mas sem a responsabilidade de gerir o grupo como tem Fernando Santos, nem poderes para evitar erros individuais, como os que aconteceram neste primeiro jogo.
Ao contrário de alguns comentários, de jornalistas/imbecis, que ouvi no pré-jogo, e independentemente dos troféus já conquistados, Fernando Santos tem, sim, carta branca para tomar todas as decisões que quiser. É para isso que continua a ser o seleccionador. O que ele não pode fazer é ignorar que, neste momento, tem nas mãos um grupo de jogadores que sabe, pode e deve ser utilizado de forma diferente.
Mesmo com alguns jogadores que estiveram na conquista do Europeu, a verdade é que este grupo tem agora outras valências e não é necessário ser tão cauteloso na abordagem às partidas, principalmente contra equipas claramente inferiores.
Com este plantel é possível subir mais as linhas e expor um pouco as costas da defesa.
Com estes jogadores dá para jogar de forma mais incisiva, mais objectiva, sem perder a capacidade de ritmar o jogo.
Na partida contra Gana deu para perceber que há disponibilidade de todos os jogadores para pressionar forte e recuperar a bola em zonas altas. Só falta dar-lhes a liberdade para serem mais agudos após a recuperação, em vez de recuar e reiniciar o processo ofensivo.
É evidente que as coisas funcionam melhor quando se tem os melhores disponíveis, mas mesmo com uma ou outra alteração no onze base dá para executar outro futebol.
A ideia de colocar Bernardo Silva no meio já demonstrou ser correcta, no entanto para poder ser peça de desequilíbrio não pode recuar tanto.
João Félix não pode ficar preso a uma ala. Tem de ser mais vagabundo para contrariar as defesas mais fechadas.
O mesmo tem de ser feito com o posicionamento de Bruno Fernandes. Fixá-lo em permanência na ala anula os atributos ofensivos de Cancelo.
Enfim,
este texto não é sobre escalação de onzes, mas há tanta rigidez na formação
tática da equipa que, caso não sejam colocadas em prática abordagens diferentes,
a selecção dificilmente conseguirá alcançar o resultado que, pela qualidade
global, tem possibilidades de conseguir.
À partida, Portugal não está no leque de favoritos para a conquista deste mundial, contudo, com a qualidade existente, a vontade demonstrada, maior concentração evitando erros graves e postura tática adequada, este grupo de jogadores pode carimbar com estrondo a ideia de ser a melhor geração que já representou o nosso futebol.
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