Já escrevi inúmeras vezes sobre a diferença de entendimento, e abordagem ao jogo, entre os brasileiros e os portugueses.
Pelos cinco títulos mundiais alcançados, a generalidade dos brasileiros acha-se a única e real fonte de verdadeira interpretação do futebol e, por essa razão, nem dão conta das incoerências que pululam os seus raciocínios.
Dissecam de forma exaustiva, continuada e, muitas vezes, persecutória, as actuações, tanto de jogadores como de treinadores, como se o jogo fosse individual e não colectivo. Avaliam as performances dos clubes em função das vitórias ou derrotas como se a primeira representasse perfeição e a segunda atestasse incompetência. Analisam a qualidade de uma partida em função do resultado final, sendo que um jogo como a recente final da Supercopa é visto como sinal preocupante das deficiências que ambas as equipas demonstraram e não pelo espectáculo de emoção que um 4x3 normalmente representa.
Esta forma de entender o futebol é compreensível quando feita pelos adeptos, não por aqueles (comentadores/analistas/jornalistas) cuja função é informar com rigor e imparcialidade.
Sendo certo que existem algumas lacunas/falhas que as equipas devem solucionar, não deixa de ser preocupante que apenas as partes negativas sejam afloradas nos diferentes espaços “informativos” de programas desportivos brasileiros.
Numa outra perspectiva, o que será do futebol se as equipas forem perfeitas, ninguém cometer erros ou aproveitar os alheios? Porventura o futebol é ciência exacta?
Todos nós gostamos de ver futebol e ansiamos sempre por grandes espectáculos, grandes jogadas individuais e colectivas, grandes defesas ou desarmes, placares alargados, intensidade, emoção, níveis altos de adrenalina. Mas para vermos e sentirmos tudo isso é preferível dar destaque ao drible bem feito e não ao timing errado do defesa, é melhor dar importância ao bom passe vertical do que ao momentâneo desposicionamento de uma linha, é mais saudável avaliar a boa colocação do remate do que alardear mau juízo posicional de um porteiro, é mais correcto enaltecer uma demonstração de reflexos rápidos de um guarda-redes do que dar um atestado de incapacidade a um avançado, é mais honesto avaliar a utilidade e timing de substituições do que apontar como erros aquelas que, raramente, dão resultados práticos, isto é, vitórias. Num 4x3 podem encontrar-se várias acções colectivas bem sucedidas, inúmeros momentos de grande futebol, tremendas demonstrações de qualidade de vários elementos de uma ou ambas as equipas, e nada disso representa um elevado aproveitamento de remate ou baixa taxa de eficácia defensiva. Mais… num jogo não existe proporcionalidade directa entre erros e acertos com o resultado final. Uma equipa não perdeu por uma irregularidade discutível, a outra não ganhou por um remate enrolado que acabou por entrar na baliza. O resultado final foi este pelo somatório de tudo isto e por influência de nada disto. E num 4x3 o treinador que vence não é génio, nem o que perde é burro. Porquanto o resultado podia ser inverso. Tal como inversa seria a avaliação da imprensa canarinha (derradeira incoerência).
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