Já escrevi alguns textos sobre a competitividade das equipas portuguesas e são tantos os factores a ter em consideração que parece ser uma temática que jamais se esgota.
Na sequência da recusa do GD Chaves em inscrever-se para a possibilidade de qualificação para as provas continentais, fiquei a pensar na legitimidade, e acerto, do clube transmontano.
Não sei se os dirigentes flavienses tomaram esta decisão por terem observado o que aconteceu recentemente com, por exemplo, Rio Ave, Santa Clara e Paços de Ferreira. Todos acabaram a época em zona de descida depois de qualificação europeia.
O mesmo não aconteceu com o Gil Vicente, no entanto, a época dos minhotos foi bem complicada e andaram bem perto dos lugares de despromoção.
A verdade é que, se para consumo interno, estes clubes conseguem montar equipas interessantes, o facto de adicionarem jogos europeus aos respectivos calendários fragiliza-os porque não têm capacidade financeira para fazer os ajustes necessários para competir extramuros.
Sendo evidente que é interessante para o nosso futebol não serem sempre os mesmos a qualificarem-se para as competições europeias, não deixa de ser verdade que essa alternância de participantes impede que os clubes ganhem “casca” e consigam melhores performances.
Alguns anos atrás todos se queixavam que o nosso campeonato era muito desequilibrado porque, além dos três grandes, só Boavista, Belenenses, Vitória SC, Vitória FC e, a espaços, Marítimo, conseguiam qualificações europeias com maior regularidade.
Contudo, todos lembramos que, por exemplo, os axadrezados eram uma equipa temida na Europa e designada, em Itália, como a equipa das camisas esquisitas, por conseguir jogar, olhos nos olhos, e ganhar, ao Inter de Zenga, Bergomi, Dino Baggio, Matthaus, Brehme, Klinsmann; à Lazio de Marchegiani, Favalli, Fuser, Winter, Casiraghi e Signori; apenas sofrer um golo, em dois jogos, do Bayern de Kahn, Kuffour, Lizarazu, Effenberg, Elber, Roque Santa Cruz e Cláudio Pizarro. E mais tarde esteve nas meias-finais da Taça UEFA.
Recuando mais no tempo tivemos o Vitória FC a eliminar o Liverpool, Fiorentina e Inter. O Vitória SC a eliminar o Atlético de Madrid e Parma. O Belenenses a vencer o Barcelona e a eliminar o Leverkusen, acabado de vencer a Taça UEFA. O Marítimo a vender cara a eliminação contra a Juventus. A presença do Braga na final da Europa League.
Todos esses resultados foram alcançados fruto da presença constante nas provas europeias. O hábito de jogar contra as melhores equipas da Europa proporciona a aquisição de experiência e potencializa as capacidades competitivas dos jogadores.
Não existindo esse desafio competitivo, de forma regular, fica tremendamente difícil os clubes portugueses encontrarem argumentos para fazerem boas campanhas europeias.
Assim sendo, creio que a decisão dos dirigentes flavienses é perfeitamente ajustada e legítima. É preferível manterem o foco nas competições nacionais, estabilizar o clube e ir construindo bases sólidas para, quem sabe, daqui a alguns anos conseguirem ter condições de competir no exterior sem comprometer os resultados internos.
De que lhes serve fazerem um bom campeonato, terem de vender os melhores jogadores desta campanha e irem às competições internacionais com uma equipa em reconstrução?
Esta decisão ajuda o futebol português a refletir nas suas limitações e a encarar com maior rigor a forma como os clubes nacionais podem tornar-se mais competitivos.
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