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O português Martinez - Emanuel Lomelino

Imagem publico

Assisti, com toda a atenção, à entrevista concedida pelo seleccionador nacional, Roberto Martinez, ao canal Sport TV e, num cômputo geral, fiquei agradado com o que ouvi.

Sem se furtar a nenhum tema, Martinez foi bem claro nas suas ideias e explicou algumas decisões que estiveram longe de gerar unanimidade no universo futebolístico português.

Com um discurso lúcido e coerente, ficámos a saber que, independentemente, da inédita qualificação cem por cento vitoriosa, a comissão técnica reconhece que os adversários não eram demasiado complicados e a equipa ainda não foi verdadeiramente colocada à prova.

Neste ponto, tenho de fazer um parentese, em favor de Martinez, pois, no passado, em situações semelhantes, com adversários bem menos cotados, víamos jogos em que a equipa nacional não conseguia transpor para o campo a sua superioridade teórica sobre os adversários, e nesta última fase de qualificação, nem no jogo mais apertado (a nível de resultado) a equipa deixou de demonstrar a diferença que a separava das demais. Inclusive, em alguns jogos foi demolidora.

Voltando à entrevista, é satisfatório ouvir um seleccionador admitir que há coisas a melhorar para que o favoritismo que nos outorgam, lá fora, venha a transformar-se em algo efectivo, porque o que foi feito até aqui não prova absolutamente nada. Temos um grupo de jogadores fantásticos que jogam em clubes de topo das melhores ligas, mas isso, per si, também não valida coisa alguma.

Outro destaque da entrevista aconteceu quando o seleccionador mencionou os três parâmetros usados na avaliação da importância dos atletas convocados – talento (que temos de sobra), experiência (não só de Pepe e Ronaldo), atitude (que deve ser sempre alta).

Sobre os dois primeiros aspectos, não creio que existam dúvidas quanto à qualidade dos nossos jogadores nem no nível de experiência que cada um deles tem, porquanto, quase todos jogam nas maiores ligas e nas provas mais exigentes.

Já em relação à atitude, espera-se sempre que todos coloquem em campo, em todos os jogos, a mesma atitude competitiva que lhes é exigida nos clubes que representam. A selecção não pode ser encarada como um local de relaxamento ou pausa competitiva. Bem pelo contrário. Cada presença na selecção deve ser encarada como uma nova oportunidade de afirmação.

Ainda foram abordados outros assuntos interessantes, mas não posso deixar passar em branco uma situação que, para mim, é reveladora do grau de compromisso que Roberto Martinez, enquanto líder da equipa mais representativa do país, tem evidenciado. Refiro-me à sua predisposição em falar o nosso idioma. Este facto deve ser aplaudido e entendido como um desejo de integração por parte do técnico. Seria mais cómodo, para ele, usar a sua língua materna, que nós até entendemos bem, no sentido de poder contestar, por esse facto, qualquer mal-entendido que resultasse dos seus discursos.  Expressando-se em Português, esse conflito deixa de estar presente e, a bem da verdade, nem tem feito declarações que gerem dúvidas. Tal como aconteceu nesta entrevista, as suas ideias são bem claras e de fácil entendimento.

Só falta trazer o caneco.

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