No início da temporada, e muito por culpa do futebol jogado em 2019, o bicampeonato do Flamengo era mais que esperado. Essa ideia ganhou força com as vitórias na Taça Guanabara, Supercopa do Brasil, Recopa Sul-Americana e Campeonato Carioca.
No entanto, como tudo no mundo e na vida, as circunstâncias começaram a mudar com o aparecimento da pandemia.
Primeiro foi a interrupção das competições, depois foi a saída de Jorge Jesus, a chegada de Domenec Torrent, o surto de Covid-19, a substituição de Torrente por Rogério Ceni, e as eliminações da Copa do Brasil e Libertadores.
A instabilidade demonstrada ao longo da temporada, principalmente depois do início do Brasileirão, resulta de todos os eventos enunciados no parágrafo anterior, mas é indesmentível que a interrupção das competições, somada à saída “inesperada” de Jorge Jesus, foram o rastilho que transformou as expectativas, de uma nova época de êxitos avassaladores, em ano pleno de sobressaltos e incertezas.
2019 elevou muito a fasquia de exigência e as comparações entre o trabalho de Jorge Jesus e a inconstância da equipa, nos primeiros jogos com Torrente no comando, foram muito sentidas pelo plantel, pela pressão extra que colocaram. E a entrada de Rogério Ceni também não conseguiu estancar o mau jogo nem cicatrizar a falta de capacidade anímica da equipa.
Ficou muito claro, desde o início do Brasileirão, que os jogadores também estiveram bem abaixo dos níveis físicos e mentais esperados e o surto, que afectou quase toda a equipa, agravou esse défice.
Gabriel Barbosa, Bruno Henrique, Everton Ribeiro, De Arrascaeta, Filipe Luiz, Gerson e Willian Arão, foram aqueles que mais inconstância revelaram e nunca conseguiram repetir as actuações da temporada anterior.
As lesões prolongadas de Rodrigo Caio, Thiago Maia e Diego Alves, a irregularidade competitiva de Gustavo Henrique, Maurício Isla, Leo Pereira e Vitinho, as deficiências técnicas e táticas de Michael, a inexperiência de Hugo Sousa, Natan Souza, Matheuzinho, entre outros, também contribuíram para que esta época fosse tão sofrida.
Mas, apesar de tudo, o Flamengo escapou a um “Annus Horribilis” por conta dos outros clubes brasileiros, quer dos que no início eram vistos como candidatos ao triunfo final, quer por aqueles que, confrontados com a possibilidade inesperada de êxito, não souberam aproveitar.
O Atlético Mineiro, mesmo com um calendário mais desanuviado, pelas eliminações em outras provas, nunca demonstrou ser capaz de assumir em campo o favoritismo que lhe foi outorgado pela generalidade da Imprensa.
O Palmeiras teve um início desolador, melhorou a partir de Outubro, principalmente nos resultados, empatando menos do que fazia, mas as participações positivas nas Copas impediram que estivesse na luta pelo título até ao final.
O Internacional, mesmo não deslumbrando, conseguiu ficar sempre perto da liderança, mas não soube aproveitar o calendário mais acessível das últimas partidas para capitalizar. Veja-se o exemplo da derrota caseira para o aflito Sport.
Entre os clubes que passaram pelo topo da classificação, o São Paulo acaba por ser o clube que mais desiludiu. Não sendo visto como candidato a vencer, contra todas as previsões, chegou ao final de 2020 na liderança, com uma vantagem pontual confortável, que esfumou-se muito rapidamente na virada de ano.
O Brasileirão 2020 chegou finalmente ao fim, com o título a ser conquistado pelo Flamengo. Não pela superioridade da equipa, como no ano anterior, mas porque mais nenhum clube brasileiro quis ganhar. E no campeonato dos que não queriam vencer, o Flamengo acabou por ser derrotado e obrigado a ficar com o troféu no seu palmarés.
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