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O bom senso prevaleceu - Emanuel Lomelino

Imagem oglobo

Neste tempo que vivemos, os acontecimentos sucedem-se a grande velocidade e o que é notícia numa hora deixa de o ser na seguinte.

Estava a escrever o texto sobre o tema da moda “Superliga” e, eis que surge a informação, um dos clubes envolvidos anuncia a sua retirada do projecto. Outros, entretanto, seguiram o exemplo e o fantasma da nova competição começou a perder força.

Horas antes do primeiro recuo, o presidente do Real Madrid foi a um programa televisivo explicar as motivações dos clubes e, entre outros argumentos, o que chamou mais a atenção foi a tese que com a nova competição era mais fácil chegar ao público jovem que está, segundo Florentino Perez, a afastar-se do futebol porque não aguenta ver noventa minutos de um jogo quase sempre mal jogado.

Ora, esta narrativa só merece sorriso de escárnio. Será que os presidentes destes clubes acreditam mesmo que os jovens se afastaram por essa razão? Ou não querem perceber que o afastamento de todo o público, que não apenas o mais jovem, aconteceu porque, devido às questões sanitárias, os estádios não puderam acolher espectadores.

Quando questionado sobre as razões para a maioria das partidas serem mal jogadas, Florentino disse que isso se explica por existirem jogos entre equipas muito desniveladas.

Será que os presidentes desses clubes acreditam mesmo que, jogando apenas entre si, todos os jogos serão de grande nível?

Em relação à explicação económica, o responsável do clube espanhol, e presidente da Superliga, disse que a não criação desta nova competição será o fim anunciado dos maiores clubes que, ano após ano, têm vindo a acumular prejuízos, e que as reformulações que a UEFA pretende implementar na Champions chegarão tarde.

Deixemos de lado os argumentos fingidos, pois todos sabemos que o impulsionador desta ideia, nata-morta, foi o dinheiro que o banco americano colocou em cima da mesa e, mesmo com rios de dinheiro a crescer nas árvores da ignorância, o problema económico dos clubes é das más gestões, agravadas com este período de pandemia.

A curiosidade maior na queda deste projecto reside na contestação, talvez, mais inesperada, vinda dos adeptos dos doze clubes que anunciaram a criação da Superliga, que não se deixaram iludir com a promessa de centenas de milhões para cada participante. Afinal a voz do povo ainda prevalece, apesar dos contentores de dinheiro anunciados.

E a contestação foi tal que cada um dos clubes, agora renunciantes ao projecto, emitiram comunicados públicos fazendo questão de referir, apesar de não ser mais que retórica acobardada, a importância da opinião dos seus adeptos na decisão de dar um passo atrás nas pretensões.

A verdade é que ninguém esperava que aqueles que dão vida aos clubes (os adeptos) fossem os mais lúcidos e razoáveis por entenderem que em toda a Europa sempre se respeitou mais a valorização do mérito.

Todos sabemos que as federações nacionais e a UEFA têm gerido as suas provas de forma quase monopolista, no entanto, não deixa de ser verdade que as competições organizadas piramidalmente são as mais justas e adequadas no universo europeu. É cultural.

Felizmente, cultural também é o bom senso dos adeptos que se manifestaram contra os seus próprios clubes. Porque, como disse Jurgen Klopp: “Será muito bom ver o West Ham na Champions, se conseguirem será por mérito próprio."

P.S - Por ser contra a criação desta liga, os nomes dos clubes fundadores não têm link para os respectivos websites, como em outros textos deste blogue. 

Leiam também: 

UEFA vs clubes ricos 

Egoísmo milionário

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