No futebol, como na vida, umas vezes ganha-se outras perde-se. Este lugar-comum hoje aplica-se na perfeição ao técnico Abel Ferreira, que no início deste ano, num curto espaço de tempo, venceu a Copa Libertadores e a Copa do Brasil, e agora, em quatro dias, perdeu a Supercopa do Brasil e a Recopa Sul-Americana.
Tendo em conta a forma como o futebol é vivido no Brasil, não é de estranhar que, com estes dois desaires, o seu estado de graça não seja o melhor junto da massa adepta, e neste momento haja muito boa gente a questionar o seu valor e à espera de uma má prestação no Campeonato Estadual para começar a pedir “a sua cabeça”, isto é, demissão.
Por outro lado, e porque no mesmo dia outro treinador português esteve envolvido numa decisão, os olhos dos brasileiros vislumbraram a existência de mais um técnico gringo a triunfar no seu território, na eliminação do, outrora vencedor e agora derrotado, Renato Gaúcho, na pré-eliminatória da Copa Libertadores.
Ao serviço do Independiente del Valle, Renato Paiva tornou-se o terceiro técnico luso, em menos de ano e meio, a derrotar o Grémio, seguindo os passos de Jorge Jesus e Abel Ferreira. Isso significa… absolutamente nada.
Entre vitórias e derrotas, o essencial é perceber que ambas fazem parte do percurso de qualquer técnico e quem ganha hoje amanhã vai perder. No entanto, enquanto houver a glorificação exagerada nas vitórias e a crucificação exacerbada nas derrotas, os treinadores no Brasil só serão uma de duas coisas: génios ou ruins. E depressa viajam de um adjectivo para outro, ao sabor das conquistas ou falta delas.
E mesmo assim, em algumas ocasiões, nem mesmo as vitórias conseguem ser suficientes para agradar. Veja-se o caso de Rogério Ceni que, apesar das conquistas recentes, continua a ser contestado por uma parte significativa dos adeptos.
Perante os cenários descritos, não é difícil perceber que no Brasil nunca existirá a possibilidade para o aparecimento de um Klopp ou um Guardiola, e a diferença para o futebol europeu tende a aumentar. A exigência do imediato é incompatível com a noção de projecto. E, para o adepto comum, a evolução do futebol, como um todo, não interessa. É mais importante uma vitória hoje, do que criar condições para que mais vitórias aconteçam amanhã.
Enquanto isso, nós em Portugal regozijamo-nos com aquilo que os treinadores lusos vão conquistando e temos a certeza que, ganhem uns ou outros, os técnicos tugas continuam nas bocas do mundo.
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