Avançar para o conteúdo principal

Uns perdem, outros ganham - Emanuel Lomelino

Renato Paiva - Imagem desportosapo

No futebol, como na vida, umas vezes ganha-se outras perde-se. Este lugar-comum hoje aplica-se na perfeição ao técnico Abel Ferreira, que no início deste ano, num curto espaço de tempo, venceu a Copa Libertadores e a Copa do Brasil, e agora, em quatro dias, perdeu a Supercopa do Brasil e a Recopa Sul-Americana.

Tendo em conta a forma como o futebol é vivido no Brasil, não é de estranhar que, com estes dois desaires, o seu estado de graça não seja o melhor junto da massa adepta, e neste momento haja muito boa gente a questionar o seu valor e à espera de uma má prestação no Campeonato Estadual para começar a pedir “a sua cabeça”, isto é, demissão.

Por outro lado, e porque no mesmo dia outro treinador português esteve envolvido numa decisão, os olhos dos brasileiros vislumbraram a existência de mais um técnico gringo a triunfar no seu território, na eliminação do, outrora vencedor e agora derrotado, Renato Gaúcho, na pré-eliminatória da Copa Libertadores.

Ao serviço do Independiente del Valle, Renato Paiva tornou-se o terceiro técnico luso, em menos de ano e meio, a derrotar o Grémio, seguindo os passos de Jorge Jesus e Abel Ferreira. Isso significa… absolutamente nada.

Entre vitórias e derrotas, o essencial é perceber que ambas fazem parte do percurso de qualquer técnico e quem ganha hoje amanhã vai perder. No entanto, enquanto houver a glorificação exagerada nas vitórias e a crucificação exacerbada nas derrotas, os treinadores no Brasil só serão uma de duas coisas: génios ou ruins. E depressa viajam de um adjectivo para outro, ao sabor das conquistas ou falta delas.

E mesmo assim, em algumas ocasiões, nem mesmo as vitórias conseguem ser suficientes para agradar. Veja-se o caso de Rogério Ceni que, apesar das conquistas recentes, continua a ser contestado por uma parte significativa dos adeptos.

Perante os cenários descritos, não é difícil perceber que no Brasil nunca existirá a possibilidade para o aparecimento de um Klopp ou um Guardiola, e a diferença para o futebol europeu tende a aumentar. A exigência do imediato é incompatível com a noção de projecto. E, para o adepto comum, a evolução do futebol, como um todo, não interessa. É mais importante uma vitória hoje, do que criar condições para que mais vitórias aconteçam amanhã.

Enquanto isso, nós em Portugal regozijamo-nos com aquilo que os treinadores lusos vão conquistando e temos a certeza que, ganhem uns ou outros, os técnicos tugas continuam nas bocas do mundo.

Leiam também:

Supercopa brasileira 

Dois anos X dois técnicos = quatro conquistas 

Reflexões sobre o futebol brasileiro 

Competência lusa 

Gerações de treinadores competentes

Acompanhem-nos no Twitter e no Facebook

Comentários

Mensagens populares deste blogue

No lado errado da estrada - Emanuel Lomelino

Imagem UOL Não há quem possa colocar em causa o talento, com laivos de genialidade, de Neymar, no entanto, por culpa de astros anteriores, e até contemporâneos, ser craque exige muito mais do que a qualidade em campo. Podem existir muitas razões para explicar a instabilidade de Neymar, mas a mais óbvia está umbilicalmente ligada à sua necessidade, quase obsessão, em andar nas bocas do mundo, a toda a hora. Desde muito cedo na sua carreira, e talvez por isso, ficou evidente a falta de formação humana que lhe deviam ter incutido. Ao contrário de outros grandes jogadores, Neymar nunca quis abdicar de uma vida boémia, qual menino mimado, para se dedicar de alma e coração à carreira escolhida. Só que essa recusa tem um preço a pagar. Mais ainda se a tudo isto juntarmos o facto de, no mesmo espaço temporal, existirem Messi e Ronaldo, e agora terem aparecido Mbappé e Haaland. Neymar até não tem sido menos “bad boy” que outros craques do passado, como Romário ou Ronaldinho Gaúcho, mas

Uma Vez Flamengo... - Adriana Mayrinck

Pintinho em um Fla x Flu. Foto do seu arquivo pessoal Flamengo e Fluminense (fotos retiradas da internet) Uma lembrança longínqua, não sei ao certo a minha idade, talvez cinco ou seis anos. Lembro-me dos detalhes da sala, do tapete em que eu ficava deitada em almofadões, com as minhas botas vermelhas, a poltrona do “papai” como era chamada, aquele lugar que só o meu avô podia sentar, ao lado de uma mesinha com tampo de mármore, sempre com um copo de cerveja Skol e uma latinha ao lado, em frente a uma TV. Não lembro quase nada dessa época, algumas coisas muito pontuais, talvez por tantas vezes ver as fotografias, no tempo que morei no apartamento dos meus avós, na Gonçalo de Castro, enquanto a nossa casa era construída, em um condomínio ASBAC, na Granja Comary, em Teresópolis. Mas lembro que andava pelos calçadões de Copacabana com os meus três anos de idade, lembro do balanço na pracinha Serzedelo Correia, quando, recém-chegada de Recife, onde nasci, aprendi a amar aquele bairro. P

Surpresa ou início de novo ciclo - Emanuel Lomelino

Imagem A Bola (José Lorvão) Vivemos um tempo atípico e, tal como está a acontecer noutras áreas, por todo o mundo, também o futebol está a ser influenciado por essa falta de normalidade. No caso português, e considerando as últimas quatro décadas, fica um pouco estranho ver o Sporting Clube de Portugal na liderança do campeonato, mais ainda com a vantagem pontual tão acentuada. É certo que ainda agora começou a segunda volta e faltam muitos jogos. Também é verdade que as outras equipas têm estado aquém do esperado. No entanto, não deixa de ser surpreendente um domínio tão avassalador. Como se explica que esta equipa, quase na totalidade composta por jovens jogadores da formação, com um treinador também em início de carreira, sem qualquer fora de série, e que inicialmente nem era vista como candidata a ganhar troféus, demonstra em campo, jornada após jornada, este nível de competência? Mesmo sendo adepto do Sporting , e estar a deliciar-me com a forma como a época está a deco