Em outras ocasiões escrevi sobre as diferenças de entendimento futebolístico entre a Europa e a América do Sul.
Um dos aspectos onde essa diferença é bem notória está na avaliação dos trabalhos dos técnicos.
Para a esmagadora maioria dos aficionados brasileiros, jornalistas, comentadores e opinadores incluídos, essa análise começa a ser feita tendo em conta o nome dos clubes e as ligas por onde cada treinador passou. Se não houver passagem pelos principais campeonatos e em clubes de relevo, logo aparece a desconfiança e o descrédito pelos trabalhos feitos. Assim aconteceu com a chegada de Jorge Jesus ao Flamengo, de Abel Ferreira ao Palmeiras, de Eduardo Coudet ao Internacional, etc, etc, etc, tantos podiam ser os exemplos.
Quem deambula pelas redes sociais, repito, não só de adeptos, mas também de jornalistas e outros agentes que opinam sobre futebol, fica claro o quanto são desconsiderados os bons técnicos que estão em clubes menores, como se apenas quem é campeão merece reconhecimento.
Um desses casos é Unai Emery.
Muitas vezes, aquando da sua passagem pelo Arsenal, foi alvo de opiniões negativas sobre a sua qualidade e competência como treinador.
Mesmo tendo no seu palmarés três Europa League, ao serviço do Sevilla, uma Ligue 1, duas Taças de França, duas Taças da Liga Francesa e duas Supertaças Francesas, pelo PSG, os críticos preferiram ignorar esse percurso e avaliar o seu trabalho apenas pelo que fez, num ano, no Arsenal, esquecendo que, nessa temporada, levou o clube londrino à final da Europa League (2018/19).
Estes “entendidos” de futebol, que desvalorizam a Europa League e desmerecem o valor das competições francesas, são os mesmos que celebram conquistas de campeonatos estaduais e taças disputadas por clubes de apenas dez nações, nem sempre os melhores de cada país.
Estes “experts” do futebolês, que ridicularizam o palmarés do técnico que venceu três Campeonatos, uma Taça, seis Taças da Liga, duas Supertaças, em Portugal, e esteve presente em duas finais da Europa League, foram os mesmos que rejubilaram quando este treinador europeu, sem grife, conquistou seis troféus em menos de um ano, na América do Sul.
Estes “iluminados” da bola, que menosprezam SC Braga e PAOK, por serem clubes “menores” de ligas secundárias, são os mesmos que aplaudem vitórias sobre clubes que apenas jogam campeonatos regionais e não têm lugar em competições nacionais, e vibraram com duas conquistas e presenças em mais três finais, de um técnico sem palmarés nem repertório.
Estes “enciclopédicos” da redondinha, que criticam um técnico vencedor, como Rogério Ceni (o único treinador brasileiro com perfil e capacidade para poder treinar na Europa) e o querem ver demitido o quanto antes, são os mesmos que aplaudem a contratação de Sylvinho, pelo Corinthians.
Estes “doutores” de bancada, que detonaram o comportamento de Eduardo Coudet, mais por não ter conseguido vencer um clássico, e questionaram a sua preferência pelo Celta de Vigo em detrimento do Internacional, são os mesmos que endeusaram Renato Gaúcho por, em quatro anos, ter conquistado três troféus importantes e outros tantos torneios estaduais, que treinadores medianos da Europa conseguiram em apenas meses.
Estes “diplomados” do estádio, que crucificaram o projecto que Tiago Nunes procurou implementar no destroçado Corinthians, e tentam fazer o mesmo com Roger Machado no Fluminense, são os mesmo que exigem o retorno de Fábio Carille ao clube paulista e saúdam a chegada de Tiago Nunes a um bem estruturado Grémio.
Estes
“filósofos” da cancha, que menosprezam as capacidades de Guto Ferreira, Paulo Fonseca,
Marco Silva, Giuseppe Iachini, Luca Gotti, Gian Piero Gasperini, Ronald Koeman,
Sérgio González e Unai Emery, para referir apenas estes, são os mesmos que, na
hora do aperto e numa tentativa de demonstrar erudição, falam do valor de
Wagner Mancini, Vanderlei Luxemburgo, Abel Braga, Eduardo Barroca ou Marcelo
Chamusca, por exemplo.
Enfim, a estes “catedráticos” futebolísticos lanço alguns desafios: Sejam honestos nas avaliações. Sejam coerentes nas análises. Tentem avaliar primeiro o trabalho e depois as conquistas. Quando conseguirem ver o futebol desta forma, aí sim, perceberão efectivamente de futebol. Caso contrário estarão sempre sujeitos a errarem nas avaliações e a serem contestados pelos inúmeros Unai Emery e respectivos Villarreal.
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