No último texto que escrevi para o blogue sentenciei o seguinte: “…amanhã pode acontecer com um verde-branco, daqui a uma semana com um azul-branco.”
Parece premonição. Uma semana após o “incidente” com um jovem adepto encarnado eis que foi mesmo um adepto azul e branco a sofrer discriminação por estar equipado com as cores do seu clube numa bancada cheia de adeptos de outras cores. E nem o facto de estar com uma criança de colo o livrou de ser insultado, ofendido, ameaçado, cuspido e obrigado a abandonar o local. Pergunto-me o que aconteceria se não tivesse levado a criança!?
Já ouvi muito sobre a falta de bom senso em querer ver futebol em sectores com maioria de adeptos adversários. Dizem que é um paradigma da actualidade; que os tempos mudam e temos de adequar os nossos comportamentos e decisões de acordo com as circunstâncias do tempo que vivemos.
Concordo com a tese da adequação, no entanto, apenas aplicada em situações de extrema importância e relevância. Em tudo o resto – futebol incluído – acho um autêntico disparate civilizacional.
Justificar em permanência estas ocorrências como sendo insensatez do discriminado é o mesmo que dizer que o racismo é resultado da cor de pele e que a homofobia deve-se à orientação sexual. E pensar assim é primitivo. Pensar assim é ter preconceito e não conceito.
Sim, os tempos mudam e devemos ter comportamentos adequados ao nosso. E nesta perspectiva, é absurdo, incompreensível, abjeto e incoerente, continuarmos a segregar como se fazia noutros tempos.
A minha preocupação central é que isto que tem ocorrido - só dos casos que se tornam públicos, porque existirão muitos que nem ficamos a saber – não é uma circunstância que deriva do futebol, é antes uma questão cívica grave.
A sociedade moderna balança entre a condenação de atitudes e acções do passado e comportamentos tão, ou mais, extremos que na antiguidade.
Todos apregoam a tolerância, a inclusão, a igualdade, mas no fundo o que realmente querem é tolerar e incluir a igualdade de uniforme. Todos os demais devem ficar noutro canto.
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