Avançar para o conteúdo principal

Preocupação civilizacional - Emanuel Lomelino

No último texto que escrevi para o blogue sentenciei o seguinte: “…amanhã pode acontecer com um verde-branco, daqui a uma semana com um azul-branco.”

Parece premonição. Uma semana após o “incidente” com um jovem adepto encarnado eis que foi mesmo um adepto azul e branco a sofrer discriminação por estar equipado com as cores do seu clube numa bancada cheia de adeptos de outras cores. E nem o facto de estar com uma criança de colo o livrou de ser insultado, ofendido, ameaçado, cuspido e obrigado a abandonar o local. Pergunto-me o que aconteceria se não tivesse levado a criança!?

Já ouvi muito sobre a falta de bom senso em querer ver futebol em sectores com maioria de adeptos adversários. Dizem que é um paradigma da actualidade; que os tempos mudam e temos de adequar os nossos comportamentos e decisões de acordo com as circunstâncias do tempo que vivemos.

Concordo com a tese da adequação, no entanto, apenas aplicada em situações de extrema importância e relevância. Em tudo o resto – futebol incluído – acho um autêntico disparate civilizacional.

Justificar em permanência estas ocorrências como sendo insensatez do discriminado é o mesmo que dizer que o racismo é resultado da cor de pele e que a homofobia deve-se à orientação sexual. E pensar assim é primitivo. Pensar assim é ter preconceito e não conceito.

Sim, os tempos mudam e devemos ter comportamentos adequados ao nosso. E nesta perspectiva, é absurdo, incompreensível, abjeto e incoerente, continuarmos a segregar como se fazia noutros tempos.

A minha preocupação central é que isto que tem ocorrido - só dos casos que se tornam públicos, porque existirão muitos que nem ficamos a saber – não é uma circunstância que deriva do futebol, é antes uma questão cívica grave.

A sociedade moderna balança entre a condenação de atitudes e acções do passado e comportamentos tão, ou mais, extremos que na antiguidade.

Todos apregoam a tolerância, a inclusão, a igualdade, mas no fundo o que realmente querem é tolerar e incluir a igualdade de uniforme. Todos os demais devem ficar noutro canto.

Leiam mais textos sobre o futebol de Portugal neste link

Acompanhem-nos no Twitter e no Facebook

Comentários

Mensagens populares deste blogue

No lado errado da estrada - Emanuel Lomelino

Imagem UOL Não há quem possa colocar em causa o talento, com laivos de genialidade, de Neymar, no entanto, por culpa de astros anteriores, e até contemporâneos, ser craque exige muito mais do que a qualidade em campo. Podem existir muitas razões para explicar a instabilidade de Neymar, mas a mais óbvia está umbilicalmente ligada à sua necessidade, quase obsessão, em andar nas bocas do mundo, a toda a hora. Desde muito cedo na sua carreira, e talvez por isso, ficou evidente a falta de formação humana que lhe deviam ter incutido. Ao contrário de outros grandes jogadores, Neymar nunca quis abdicar de uma vida boémia, qual menino mimado, para se dedicar de alma e coração à carreira escolhida. Só que essa recusa tem um preço a pagar. Mais ainda se a tudo isto juntarmos o facto de, no mesmo espaço temporal, existirem Messi e Ronaldo, e agora terem aparecido Mbappé e Haaland. Neymar até não tem sido menos “bad boy” que outros craques do passado, como Romário ou Ronaldinho Gaúcho, mas

Uma Vez Flamengo... - Adriana Mayrinck

Pintinho em um Fla x Flu. Foto do seu arquivo pessoal Flamengo e Fluminense (fotos retiradas da internet) Uma lembrança longínqua, não sei ao certo a minha idade, talvez cinco ou seis anos. Lembro-me dos detalhes da sala, do tapete em que eu ficava deitada em almofadões, com as minhas botas vermelhas, a poltrona do “papai” como era chamada, aquele lugar que só o meu avô podia sentar, ao lado de uma mesinha com tampo de mármore, sempre com um copo de cerveja Skol e uma latinha ao lado, em frente a uma TV. Não lembro quase nada dessa época, algumas coisas muito pontuais, talvez por tantas vezes ver as fotografias, no tempo que morei no apartamento dos meus avós, na Gonçalo de Castro, enquanto a nossa casa era construída, em um condomínio ASBAC, na Granja Comary, em Teresópolis. Mas lembro que andava pelos calçadões de Copacabana com os meus três anos de idade, lembro do balanço na pracinha Serzedelo Correia, quando, recém-chegada de Recife, onde nasci, aprendi a amar aquele bairro. P

Surpresa ou início de novo ciclo - Emanuel Lomelino

Imagem A Bola (José Lorvão) Vivemos um tempo atípico e, tal como está a acontecer noutras áreas, por todo o mundo, também o futebol está a ser influenciado por essa falta de normalidade. No caso português, e considerando as últimas quatro décadas, fica um pouco estranho ver o Sporting Clube de Portugal na liderança do campeonato, mais ainda com a vantagem pontual tão acentuada. É certo que ainda agora começou a segunda volta e faltam muitos jogos. Também é verdade que as outras equipas têm estado aquém do esperado. No entanto, não deixa de ser surpreendente um domínio tão avassalador. Como se explica que esta equipa, quase na totalidade composta por jovens jogadores da formação, com um treinador também em início de carreira, sem qualquer fora de série, e que inicialmente nem era vista como candidata a ganhar troféus, demonstra em campo, jornada após jornada, este nível de competência? Mesmo sendo adepto do Sporting , e estar a deliciar-me com a forma como a época está a deco