Por razões óbvias, desde 2019, tenho acompanhado, alguns programas, debates e podcasts, de jornalistas, comentadores e adeptos, para sentir o pulso de como se vê e fala de futebol no Brasil.
Tenho aprendido bastante e muito do que é falado vai ao encontro da minha forma de analisar o desporto rei. No entanto, também há questões em que as opiniões dadas divergem substancialmente das minhas.
É evidente que a minha visão, sendo exterior, de quem vive do outro lado do oceano e não está 24 sobre 24 horas a assistir aos bastidores, pode ser enferma pela falta de contacto directo com os factos, mas não deixa de ter validade precisamente por esse afastamento.
Servem os parágrafos anteriores para explicar a forma como tenho procurado, através dos meios tecnológicos ao meu dispor, vulgo Internet, as informações necessárias para compreender melhor algumas especificidades do futebol brasileiro.
Uma das mais flagrantes, e que salta à vista de quem, como eu, está habituado a diferentes formas de gestão e promoção do produto futebolístico, é o afunilamento de calendário que as competições estão sujeitas e a forma como isso é encarado por aqueles que vivem e trabalham em função do jogo.
Esse calendário apertado tem sido referido, e bem, por muitos agentes do futebol, como nefasto para a integridade física dos jogadores e, consequentemente, para a evolução qualitativa das competições no Brasil.
Ora bem. Esta problemática tem sido abordada, vezes sem conta, por Abel Ferreira, que voltou ao assunto na conferência de imprensa, após a derrota do Palmeiras na visita ao Coritiba (já despromovido).
Desta vez, a repercussão das palavras do técnico português foi enorme e analisada como sendo uma justificativa para os últimos resultados, principalmente mundial de clubes.
Eu só entenderia como justificativa de derrota se não tivesse escutado essas mesmas palavras em conferências anteriores, uma delas antes do segundo jogo contra o River Plate, na meia-final da Libertadores. Troféu que acabou por conquistar.
As razões, para a forma como muitos entenderam o que ele disse, só os próprios podem explicar, no entanto, não deixa de ser estranho que, nas ocasiões anteriores, ninguém tenha replicado como agora.
Ao ver e ouvir muitos dos comentários feitos às declarações de Abel Ferreira, fiquei com a nítida sensação que a proximidade dos jogos decisivos da Copa do Brasil foi o motivo para, só agora, entenderem o discurso como lesa-pátria.
Posto isto, e depois de assistir ao Posse de Bola, do UOL Esporte, com Eduardo Tironi, Arnaldo Ribeiro, Mauro Cezar Pereira e Juca Kfouri, que assisto religiosamente desde o primeiro momento, já lá vão 101 episódios, tenho de endereçar os meus parabéns a Mauro Cezar Pereira pela forma como abordou o assunto.
Segundo o jornalista, Abel Ferreira tem razão quando faz referência ao calendário apertado a que o seu clube tem sido sujeito, mas erra no timing destas declarações, porquanto essa particularidade já estava definida, à priori, no momento em que assinou contrato com o Palmeiras, e por isso já sabia o que o esperava.
Concordo em absoluto com esta opinião e não é a primeira vez que vejo Mauro Cezar Pereira usar uma narrativa justa, equilibrada e profissional nas análises ao trabalho e comportamento de Abel Ferreira. Como quando referiu que a qualidade do técnico não podia ser avaliada de forma justa devido ao tempo reduzido de trabalho e às circunstâncias atípicas que esta época desportiva encerra. E com isso demonstrou coerência, pois já tinha feito o mesmo comentário referindo-se a outros técnicos, nomeadamente aquando da passagem de Domènec Torrent pelo Flamengo.
Gostaria que outros jornalistas tivessem a capacidade, para não dizer a hombridade, de criticar o que deve ser criticado e elogiar o que deve ser elogiado, sob pena de alguém, distante como eu, entender algumas afirmações como simples agitadores de águas, geradores de instabilidades.
Seria benéfico para o futebol brasileiro que existissem mais jornalistas que demonstrassem, para além de isenção, alguma coerência e profissionalismo na hora de comentar.
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